Quando se diz não
(Colagem: Laura Teixeira)
“Às vezes, diz-se não. Isso é o artista negro quem diz. Então uma nova forma de arte aparece, a arte de combate. Arte de transição para um período de transição. Arte do presente, entre uma grandeza perdida e outra a conquistar. Arte do provisório, cuja intenção não é durar, mas testemunhar”, ouvimos na voz de Jean Négroni.
Em As estátuas também morrem (1953), documentário dirigido por Alain Resnais, Chris Marker e Ghislain Cloquet no âmbito das atividades promovidas pela revista Présence africaine, fundada pelo filósofo senegalês Alioune Diop em 1947, há um momento no qual a narração do filme celebra um contramovimento ao colonialismo e, consequentemente, às violentas práticas de saque e espoliação de culturas que o eurocentrismo marcou com o selo da inferioridade. É nesse contexto que se insere a passagem que abre este artigo.
Haveria, por parte do que os realizadores chamam genericamente de artista negro, um combate a ser travado: contra a expropriação cultural que ergueu os museus europeus na modernidade, o artista responde dizendo “não” e, na imagem que acompanha a voz em off, vemos um quadro mostrando o libertar dos grilhões impostos pelo racismo europeu aos povos da África. Essa arte, produzida em um período conturbado entre o legado perdido do passado e um porvir a ser alcançado – não mais como uma narrativa entrecortada por traumas e feridas –, não teria como proposta estética a durabilidade e a permanência, mas o caráter frágil, precário e evanescente do testemunho.
Segundo Giorgio Aga
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