Por uma filosofia do ser-tão

Por uma filosofia do ser-tão
(Foto: ALBERT ECKHOUT)
  Quem nasceu sob luz de lamparina não tem medo da escuridão… Foi assim que eu vim ao mundo, sob luz de lamparina, entre o finzinho de uma tarde e o início de uma noite de quarta-feira... com a força de minha mãe e a sabedoria ancestral de uma parteira, minha Mãe Chica... Meu pai tocava fogo no mundo, como ele costuma dizer, quando foi chamado na roça que limpava para o plantio... As sabedorias ancestrais de mulheres que nos aparavam quando nascíamos, as sabedorias ancestrais no manuseio das ervas medicinais, do barro, do couro, do milho, do feijão, do algodão, do arroz, do gado, das galinhas, dos capotes... tudo isso tece meu pensar, meu filosofar desde o meu sertão do Inhamuns (Ceará), meu Pau Preto, minha filosofia do ser-tão. Minha mãe ensinou-me/ensina-me a ler a lua, minha vó Genuina (in memoriam) me ensinou e segue ensinando, pela voz do meu pai, a ler os pássaros... são leituras contínuas e nem sempre traduzidas em palavras. Os saberes do sertão são os fios que bordam a filosofia do ser-tão, uma filosofia do pé no chão, mesmo quando estamos com a cabeça nas nuvens, uma filosofia da cabaça na cabeça, do banho de cuia, das roupas lavadas na beira do rio, dos banhos de açude, da lamparina alumiando o mundo, do lampião, do fogão a lenha, do leite quentinho direto da teta da vaca, da fruta no pé, dos vaqueiros, das benzedeiras, das contações de histórias em volta de fogueiras nos terreiros... Nossos terreiros, lugar onde aprendemos a correr, cair e levantar, lugar de festas diversas, de culto e de missa, lugar da brincade

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