Um padrão de qualidade

Um padrão de qualidade

Fernando Barbosa Lima, o criador de tantos bons programas da nossa TV, fala sobre passado, presente e futuro da telinha
Fernando Barbosa Lima é um nome que equivale dizer televisão. Aos 73 anos e cinqüenta e tantos de carreira, tem no seu portfólio mais de 100 séries de programas como Preto no branco, Abertura, Jornal de vanguarda, Sem censura, Conexão internacional, Xingu, Canal livre, Persona, Advogado do diabo, Cara a cara, Família Brasil, entre outros. Para reunir as vivências, a experiência e a história da sua carreira, Fernando está lançando Nossas câmeras são meus olhos, uma delícia de livro com muitas histórias dos bastidores da televisão e com sérias e agudas reflexões sobre a TV do passado, presente e futuro.

CULT – Uma de suas frases no livro: “sempre acreditei que qualidade vende”. Isso é cada vez mais verdadeiro na nossa TV?
Fernando Bardosa Lima – Vende. O público da classe média procura uma televisão com melhor nível. Esse público é exatamente o que tem maior poder de compra. Por que anunciar um automóvel num programa de baixa qualidade que é visto pelo brasileiro mais pobre, sem poder aquisitivo para comprar um carro?

CULT – A TV por assinatura tem futuro?
F.B.L. – Poderá ter um futuro gratificante a partir do momento em que ela conseguir se identificar com o público que paga um canal por assinatura. No momento, com o baixo poder aquisitivo do brasileiro, esse assinante não chega a 6% dos telespectadores. Já a TV aberta atinge mais de 170 milhões de pessoas. Mas quem é assinante é o público com poder de compra.

CULT – Na extinta TV Excelsior, houve um boom de modernidade que é copiado até hoje. Por quê?
F.B.L. – A Excelsior foi uma televisão fantástica. Pena que tenha se apagado da memória brasileira. Muita gente sequer chegou a conhecê-la, já que o Brasil é um país de jovens. Basta lembrar que a Excelsior, no seu teatro de Ipanema, realizava toda noite, ao vivo, um grande show de duas horas. Era a nossa Broadway. Todos os nossos grandes artistas, que hoje estão na Globo, participavam da Excelsior. O Jornal de vanguarda começou na Excelsior. Mas ela acabou destruída pela ditadura militar. Os militares não confiavam no seu espírito de liberdade.

CULT – O que a TV Globo representou de bom para a TV brasileira? E o que simbolizou de mau?
F.B.L. – A Globo representa um padrão técnico de alta qualidade. Sua capacidade de produção é imensa. Basta dizer que, somando todas as suas novelas, ela produz o equivalente a um filme de longa metragem diariamente. Acho apenas que ela poderia investir mais em educação e cultura.

CULT – Como é sua visão da TV pública na escola?
F.B.L. – Acho que a TV pública na escola, sempre junto com os professores, poderia abrir novos caminhos para as nossas crianças. Por exemplo: mostrar o mercado de profissões, mostrar a importância da medicina preventiva, abrir as portas para o esporte, contar a nossa História, revelar o exemplo de grandes brasileiros etc… Uma criança, no Brasil, fica tão pouco tempo na escola pública que precisa desse suporte. A televisão tem a capacidade de mostrar e convencer.

CULT – O problema das emissoras regionais, que hoje são apenas retransmissoras, não deveria ser contornado? E como?
F.B.L. – Existe uma frase do Eça de Queiroz que diz: “Minha dor de dente é mais importante do que qualquer guerra na China”. As emissoras regionais estão mais perto da sua gente, dos problemas e soluções de suas cidades. Se elas se preocuparem em viver mais o seu público, elas podem crescer em audiência e personalidade. Nos Estados Unidos é assim, as emissoras só entram em rede nos grandes programas e telejornais.

CULT – Fazendo um balanço, você se sente feliz pelo que fez na TV?
F.B.L. – Sou muito feliz quando penso nos meus sonhos e na minha capacidade de realizá-los. Assim é a vida. (GGF)

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