Um dia de Zé Bala
(Ilustração: @photo.jaksys)
Zé Bala, o homem mais ignorante que já passou por essas bandas, foi ao médico certo dia. Sua esposa Ritinha que havia marcado. Entre uma infinidade de queixas para as quais não há remédio, queixava-se de tontura. No posto, ele é chamado à sala do doutor, que pergunta:
– O que o senhor tem?
– Eu tenho quatro filhos malcriados que só a bexiga da peste, uma esposa tão feia que nem os mosquitos entram no quarto, um cachorro sarnento e uma casa velha.
– Seu Zé, não foi isso que eu perguntei. O que o senhor sente?
– Eu sinto sede e fome.
– Eu quero saber se o senhor tem alguma dor, alguma doença…
– Doutor, se soubesse, eu não estava aqui. Quem tem que saber e me dizer é o senhor, que é médico! Mas pra dizer a verdade, nesses últimos dias tenho tido muita tontura.
O médico examina o paciente e lhe receita alguns comprimidos para labirintite. Zé Bala reage:
– Doutor, o senhor quer que eu tome isso pra tontura?”
– Sim, isso vai curá-lo.
– Como isso vai me curar? Se eu tomar essa porcaria, vai pro meu bucho. Eu tenho tontura e não dor de barriga.
Zé sai do consultório praguejando. No caminho de casa, resolve passar na casa da mãe, que fica apenas a uma quadra da sua. Ao chegar, como de costume, ele esmurra a porta. Como de costume, sua mãezinha pergunta:
– É você, Zé?
– Não, mãe, quem tá aqui é uma assombração!
– Entre, meu filho. Acabei de passar um café.
– A senhora não adoçou o café?
– Você quer que coloque açúcar?
– Não, mãe, prefiro adoçar com sal
Ao chegar em casa, Zé pergunta para a esposa:
– Mulher, o que tem pra comer?
– Arroz, feijão e carne de sol.
– Traga pra mim. Tô varado de fome.
– Quer que eu leve no prato?
– Não, mulher, jogue tudo no chão e puxe com um rodo até aqui onde eu tô.
Esse foi mais um dia na vida de Zé Bala.
por José Ionildo Severo