Subjetivações e lugares sociais neofascistas no Brasil

Subjetivações e lugares sociais neofascistas no Brasil
(foto: Fernando Frazão/AB)

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Passado um ano da vitória, no limite, de Lula sobre Bolsonaro, tendemos a esquecer e a perder contato com o movimento social, psíquico e ideológico da nova extrema direita que ganhou toda força no Brasil. Um projeto que também se apresenta agora na Argentina. Como muitos de nós não percebemos o caráter e a ascensão do movimento neofascista no Brasil em 2018 – para qualquer efeito de combate político real – e ajudamos Bolsonaro, com nosso mal entendimento da coisa, agora, com a normalidade em curso de tensão e impasse político e econômico do novo governo de ampla coalizão, muito rapidamente tende-se a esquecer o que aconteceu ontem, e ainda está acontecendo hoje. Não temos mais nenhuma desculpa para não o sabermos, a não ser uma tácita adesão. Todo esquecimento é uma vitória prática do fascismo, que vai “nos surpreender de novo”, com as mesmas velhas armas e as mesmas mentiras. Aqui está um rápido inventário dos modos de ser da direita neofascista e dos lugares sociais onde ela está e atua. Tudo acontecendo hoje e agora, como aconteceu em 2018 e desde 2015… As subjetivações práticas existentes entre nós, de uma nova direita que pipoca pelo mundo, e da qual o Brasil de Bolsonaro é uma das plataformas de lançamento:

1. Impertinência arrogante;

2. Inventores de comunismo;

3. Falso evangélico mafioso de extrema direita;

4. Evangélico autoritário que se esconde atrás do pastor falso evangélico mafioso político;

5. Policiais pobres do bem em busca de exclusão de ilicitude para matar em paz;

6. Generais do bem em busca de líder fascista para carregarem as joias contrabandeadas, planejarem sua ditadura e ganharem um salário de um milhão de reais em plena pandemia;

7. Idiotas de todo calibre aguardando a última mentira qualquer do dia na rede bolsonarista para marchar por um ditador;

8. Direitistas tradicionais de família, raça, gênero e propriedade bem afirmados;

9. Trabalhadores na fronteira do inorgânico, do precariado ou do crime;

10. Idiotas da memética;

11. Idiotas da conspiração globalista;

12. Idiotas da conspiração anticomunista de 1958;

13. Idiotas da pseudoconspiração QAnon contra artistas pedófilos;

14. Idiotas da conspiração ETs estão entre nós;

15. Espertos alto consumidores de luxo global que achavam que ganhariam dinheiro com Bolsonaro e Paulo Guedes no poder;

16. Super inteligentes milionários moradores de Londres que dão calote bilionário no mercado e que veem o país como uma planilha no computador da própria empresa;

17. Velhos católicos fascistas Opus Dei que vão ao velho jornal ressentido de extrema direita de São Paulo garantir que a constituição garante o direito de as Forças Armadas darem um golpe;

18. Super democratas donos de jornais e seus editores que proíbem seus jornalistas de chamarem Bolsonaro de extrema direita;

19. Imbecis de todos os calibres que veem no líder degradado e provinciano a chance de subir na vida em um mundo que interrompeu qualquer possibilidade de ganharem a vida que não pela violência e destruição dos direitos alheios, neoescravistas;

20. Milicianos;

21. Garimpeiros;

22. Invasores posseiros de terras indígenas;

23. Gente que garante que não é de direita, mas necessita de Lula preso a qualquer custo e por isso vota em Bolsonaro;

24. Fascistas da Jovem Pan e seus tentáculos menores Brasil Paralelo;

25. Novos mileisistas que apareceram hoje que vão transformar o neofascismo de milícias, generais aposentados, coronéis e garimpeiros de Bolsonaro no neofascismo anarco-palhaço que veio do céu de nova acumulação primitiva de capital destruindo as democracias liberais existentes.

Tales Ab’Sáber é psicanalista, ensaísta, professor de filosofia da psicanálise na Universidade Federal de São Paulo, autor de, entre outros, “Lulismo, carisma pop e cultura anticrítica”.


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