Gonçalo Tavares: ‘Se penso antes, não escrevo’
O escritor português Gonçalo Tavares (Divulgação)
Por meio do uso de metáforas que transitam da literatura ao teatro japonês, o escritor português Gonçalo Tavares expôs suas reflexões a respeito do olhar, da vivência e da palavra, relacionando-os ao jornalismo.
No segundo dia do 4º Congresso Internacional CULT de Jornalismo Cultural, o escritor _apresentado por Carlos Costa, professor de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero_ iniciou sua apresentação dizendo como o mundo deveria ser visto. “Ser vesgo temporal. Alguém que não larga o olho do passado, mas ter um olho também, claramente, nos projetos.”
Abordando o jornalismo, afirmou que há um jogo entre a proximidade e o afastamento para encontrar a melhor maneira de observar um contexto.
Desenvolve suas reflexões analisando o trabalho de Oscar Niemeyer, mostrando como a estrutura circular de suas obras orienta o visitante para onde deve observar. Contextualiza tais conceitos no campo jornalístico, indagando: “Para onde eu quero virar o leitor?”.
Ao explorar a composição das artes dramáticas nipônicas, Tavares revela a personagem da “ausência”, representada por um ator que permanece parado e mudo no palco, complementando que este é sempre o papel mais árduo e o mais bem pago. “O jornalista deve ser assim, estar presente, mas transmitir ausência, para não influir na realidade, apenas observar”.
Em seguida, discorrendo sobre a linguagem, afirma que “a escrita e o mundo real são completamente diferentes. A escrita é abstrata. É uma ilusão acreditar que a palavra está ligada à realidade”. E acrescenta que o jornalista deve afastar a nuvem da linguagem para averiguar e descobrir a verdade por trás de discursos e textos.
Tavares finaliza a palestra descrevendo suas experiências como escritor: “Para mim, escrever é pensar. Se penso antes, não vou escrever”.