Rousseau a passeio
Jean-Jacques Rousseau recolhendo ervas em Ermenonville (1712-78), de Nicolas Andre Monsiau (Bibliothèque Nationale, Paris, France)
Edições críticas permitem bom encontro entre pensador solitário e cidadãos de uma República ainda inexistente
Espécie de paradoxo, o vigésimo e último volume das Obras completas de Rousseau é o primeiro a ser publicado em Paris, na coleção Biblioteca do Século 18.
O volume resulta do trabalho editorial de dois especialistas: Alain Grosrichard, autor da quase totalidade das notas explicativas e de uma saborosa introdução, em forma de diálogo; François Jacob, responsável pelo prólogo, estabelecimento dos textos, glossário, índices, assim como pela introdução às “cartas de jogo”.
Ao percorrer as páginas do livro, o leitor será levado a refazer os dez passeios que Rousseau transcreveu pouco antes de sua morte, entre setembro de 1776 e abril de 1778. Do primeiro texto, no qual ele descreve a condição do solitário e alude a algumas intenções de escrita, até o último, dedicado à sua amiga Madame de Warens, vê-se Rousseau designar, no interior da obra, o seu próprio exterior: entre o silêncio da origem, aparentado às imagens oníricas e aos signos memorativos que se manifestam no universo do sonho acordado, de um lado, e, de outro, o silêncio da escravidão, em que a fala se cala sob a prevalência e os desdobramentos da escrita, uma camada sedimentar do texto dá testemunho do bom encontro entre o sentimento de si do indivíduo solitário, a formação do cidadão no estado social e a figura de um leitor futuro – este último, incompatível com os leitores que povoavam o pesadelo acordado e coletivo de um regime, já a
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