Quem tem medo de Simone de Beauvoir?

Quem tem medo de Simone de Beauvoir?
Simone de Beauvoir em 1952, fotografada por Gisèle Freund, famosa por seus retratos de escritores e artistas (Foto: Divulgação)
  Se hoje em dia fizéssemos uma resenha de O segundo sexo (1949) ainda estaríamos sendo atuais. Há quem goste de dizer que se trata de um livro ultrapassado. Podemos nos perguntar, ultrapassado para quem? Certamente não para o Brasil, infelizmente, atrasado em tudo o que mais importa relativamente a gênero: legalização do aborto, equiparação salarial e, em um nível cotidiano, a desigualdade doméstica que faz pesar em escala privada as naturalizações gritantes na escala pública. O Brasil está afundando cada vez mais no obscurantismo no que tange ao tema gênero, sobretudo quando surgem fatos como a retirada do assunto das metas da educação nacional. Raça e classe social também são temas que precisam ser mantidos longe para a manutenção da miséria da educação brasileira que contribui, por sua própria inanição, para uma cultura cada vez mais empobrecida no que se refere à reflexão que, na base de tudo, poderia orientar ações em outra direção. Ora, fazer feminismo hoje implica perceber os arranjos da dominação de gênero e todas as demais formas de dominação. Neste cenário, o conteúdo de O segundo sexo assusta. Salvo exceções – as feministas comprometidas com a teoria para as quais o livro é um clássico –, ninguém leu as quase mil páginas. Afirmá-lo como um clássico também pode ser pouco profícuo. Seria melhor que as pessoas tratassem O segundo sexo como autoajuda ou bula de remédio, perdessem o medo de Simone de Beauvoir, e o lessem de uma vez em favor da cultura. A obra deveria ser lida não por feminista

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