Pulsão de morte: um conceito reacionário ou revolucionário?
“Sonho de mulher branca, triste, em busca de aventuras”, de Pinky Wainer (Foto: Reprodução/Estúdio 321)
Uma das maneiras de indicar a centralidade do conceito de pulsão para a teoria psicanalítica é lembrar que ele consiste em uma teoria a respeito do fato de que a espécie humana perdeu, diferentemente das outras espécies, a relação predeterminada com o objeto sexual, tratando-se, então, de pensar como esse caminho se constrói para cada indivíduo. Uma vez que toma para si a ideia de que cada uma de nós precisa elaborar vias específicas para a capacidade de amar, a psicanálise rompe, em larga medida, com a caracterização puramente biológica da função sexual, afastando-se da noção de instinto, embora isso não signifique dizer que a biologia não desempenhe um papel relevante na construção do pensamento freudiano. Apesar de a palavra “pulsão” não ser muito satisfatória, é fundamentalmente por esse motivo que evitamos traduzir Trieb por “instinto”. Tal opção de tradução parece destituir os textos de Freud do que eles pretendem trabalhar. Além do mais, de um ponto de vista terminológico, é importante ponderar que, nas ocasiões em que Freud emprega o termo Instinkt, disponível em língua alemã, ele não o faz de modo a se referir àquilo que conceituou sob o termo Trieb.
Freud se serve da noção de pulsão (Trieb) para alicerçar o potencial heurístico da psicanálise. Diante da tarefa de conferir inteligibilidade aos sintomas psiconeuróticos, o psicanalista assume que eles expressam, com os atos simultâneos de revelar e esconder, um conflito entre tendências ou forças que, portanto, trabalhariam em sentidos contrário
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