Psicanálise e feminismo, um panorama histórico
Línguas e lutas
Tal qual no encontro de duas línguas, podemos pensar as relações entre psicanálise e feminismo a partir de suas origens, semelhanças, sotaques, falsos cognatos e de suas possibilidades de tradução. Tradução que, aliás, marca dois episódios frequentemente esquecidos dos trânsitos entre esses campos. Em 1880, com apenas 24 anos e muito antes de conceber a teoria psicanalítica, Freud traduz para o alemão o ensaio A sujeição das mulheres de John Stuart Mill. Nesse mesmo ano, Bertha Pappenheim começa seu tratamento com Josef Breuer dando início àquele que pode ser considerado o caso princeps da psicanálise: Anna O. Mas se a invenção da psicanálise pode ser creditada às reflexões advindas desse tratamento, o feminismo alemão deve a Bertha Pappenheim não apenas a tradução do manifesto Uma reivindicação dos direitos das mulheres (1792), de Mary Wollstonecraft, mas igualmente o pioneirismo de diversos projetos sociais e associações que lutavam pelos direitos das mulheres.
Poucos anos mais tarde, tais ímpetos encontrariam ecos políticos mais contundentes nas manifestações que marcaram a chamada primeira onda do feminismo. A título de exemplo, lembremos que, em 8 de março de 1908, milhares de mulheres protestavam em Nova York não só contra suas terríveis condições de trabalho, mas igualmente pelo fim do trabalho infantil e pelo sufrágio universal. Meses mais tarde, um contingente ainda maior marchava pelo direito ao voto em Londres e, no Peru, as portas da Universidade eram pela primeira vez abertas às mulh
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