Por um Carnaval sem fantasia
(Foto: Divulgação)
Há pilhas de bibliografia sobre a antropologia do Carnaval, explicando a festa como ruptura da norma, experiência de inversão, suspensão provisória da ordem. Folia é loucura, como se sabe. Semel in anno licet insanire, diz uma célebre frase latina que aparece até em Santo Agostinho (De Civitate Dei, VI. 10): “Uma vez por ano é lícito enlouquecer”. Sêneca (Aliquando et insanire iucundum est “De quando em quando é bom meter o pé na jaca”) e Chico Buarque (“Deus permite a todo mundo/ Uma loucura”) têm suas versões. A ideia é simples e define o Carnaval ocidental, mas também tantas outras experiências culturais no mundo em que, em um período definido todo ano, todos estão autorizados a desrespeitar as convenções religiosas e os cânones sociais e a comportar-se como se não fossem eles mesmos.
Mas os adeptos da política identitária são parte de uma geração que leu ou recebeu a influência de alguma sociologia – marxista –, mas que não leu antropologia, psicanálise nem filosofia. O resultado é uma leitura unidimensional das interações humanas que não deixa espaço para mais nada a não ser determinação social e construção histórica. Não sabem o que fazer com as estruturas antropológicas do imaginário nem deixam espaço à mesa para o desejo. Não sabem que Marx sem Freud (ou Nietzsche) é “avião sem asa, fogueira sem brasa”. Sabem do homem colonizado e preconceituoso, mas não conhecem o Homo ludens.
De um tempo pra cá, os identitários de esquerda estão em guerra com a fantasia. Resolveram que a f
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