A poesia crítica de João Cabral

Edição do mês
A poesia crítica de João Cabral
  Entre A escola das facas, de 1980, e Auto do frade, de 1984, João Cabral publicou, em 1982, um livro singular em sua bibliografia. Tão singular que ficou de fora de sua Obra completa, de 1994. Trata-se do volume Poesia crítica (Antologia), editado pela José Olympio. E é singular por vários motivos, a começar por ser o único volume do poeta precedido por uma nota do autor em que não apenas são dadas as razões de sua organização, como ainda se defende uma poética. Entretanto, a meu ver, a sua maior singularidade está precisamente em sua divisão: uma primeira parte, intitulada “Linguagem”, constituída de 21 poemas, e uma segunda, “Linguagens”, mais longa, com 59 textos. A razão da divisão é dada pelo próprio poeta na frase incisiva com que inicia a supracitada nota do autor: “Este livro reúne os poemas em que o autor tomou como assunto a criação poética e a obra ou a personalidade de criadores poetas ou não”. Embora a divisão pareça muito clara e tranquila, um exame mais acurado talvez seja capaz de apontar uma maior complexidade; a meu ver, ela decorre, em primeiro lugar, do uso feito da palavra assunto, pois a pergunta que logo ocorre é de saber o que significa, para um poeta, a própria palavra, isto é, em que medida o poema tem um assunto e em que medida o poeta toma como assunto este ou aquele objeto. E mesmo que se admita o argumento como levando à divisão do livro, logo outra questão é proposta: se o assunto é, em “Linguagem”, a criação poética e, em “Linguagens”, “a obra ou a personalidade de criadores

Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »

TV Cult