PartidA, um movimento feminista feito de alegria política

PartidA, um movimento feminista feito de alegria política

Algumas palavras sobre o movimento #partidA pra nos ajudar a pensar.

O movimento feminista #partidA surgiu em 2015 quando algumas feministas discutiam a possibilidade e o sentido de um partido feminista no Brasil. Nossa primeira reunião foi no Rio de Janeiro em 25 de maio do ano de 2015. Em seguida nos reunimos em São Paulo, em Porto Alegre e desde então, grupos de mulheres de diversas capitais de norte a sul do país e de algumas cidades do interior tem se organizado em torno da ideia da #partidA.

A #partidA é uma espécie de metáfora política. Desde o começo discutimos a questão do nosso significante: “#partidA”. Trata-se de uma palavra que remete ao feminino de partido, mas em vez de um P maiúsculo ao começo, colocamos um A maiúsculo ao final, para marcar o seu caráter feminino. Politizado, o feminino se torna “feminismo”. A consciência de gênero é o que está em jogo na politização das mulheres. Como metáfora, a #partidA se estabelece no trânsito, na comparação entre movimento e partido e cria uma nova forma.

Mas a partidA é também uma ideia, um conceito político, isso quer dizer que ela está em aberto, pronta a ser pensada a partir da percepção das mulheres (em seu sentido ético, estético e político mais amplo) que, na consciência da questão de gênero, se tornam feministas.

Nossa história começa com essa ideia à qual as pessoas aderem justamente porque se trata de uma abertura à invenção pessoal e à diferença. Tendo em vista as críticas inevitáveis à instituição “partido” decidimos agir como um movimento que funciona como partido, pois o partido tradicional não é uma estrutura tão aberta como pretendemos ser. Não somos, portanto, um partido no sentido tradicional, e talvez não venhamos a ser, mas sabemos que o poder político passa pelo partidos enquanto organizações políticas que permitem a sujeitos dos mais variados setores a eleição para cargos legislativos e executivos. Esses cargos que, na estrutura tradicional, ainda ocupam o espaço da decisão sobre a vida de todos.

Além disso, em nosso momento histórico, devemos evitar uma ingenuidade contraproducente, aquela de acreditar que a separação entre as duas esferas da política, a saber, a política em geral, cotidiana, dos movimentos, da vida, e a política institucional, a saber, os poderes legislativo e executivo e todos os seus efeitos, venha a nos ajudar a melhorar o campo da política em geral. A luta por hegemonia própria da política, não pode resolver-se na separação interna dos que lutam, por isso, pensamos num movimento que reúna tendências, que estabeleça pontes entre diferenças. Não somos ao mesmo tempo, apenas um movimento, pois acreditando no conceito-prático de ocupação como um operador radical de provocação e transformação, defendemos a chegada das minorias ao poder institucional e o partido é uma via para esse acesso. Mas o nosso não é só um partido, é um movimento que põe em questão o partido sem abandonar o seu poder de articulação e transformação.

O desejo que move o nosso movimento em particular é de que os movimentos sociais em geral tomem os partidos e, a partir daí, os poderes legislativo e executivo que organizam os rumos da sociedade. Nossa utopia:  transformar os partidos tradicionais e também o poder como um todo.

Do mesmo modo, como movimento, acreditamos que todos os espaços da sociedade podem e devem ser atravessados pelas propostas da democracia feminista que defendemos. Essa democracia é radical, no sentido de lutar pela inclusão política de todos na sociedade, o que pensamos, seja possível pela representação das chamadas “minorias”. No caso das mulheres, somos, na verdade, uma maioria populacional e uma minoria política, mas em diversos estágios de politização. Queremos contribuir como movimento para a politização cotidiana das mulheres rumo ao feminismo como consciência de gênero, consciência de raça e da classe. Acreditamos que a revolução é feminista e pode ser feita sem violência por parte de seus agentes.

Pensamos que hoje, nossa atuação como movimento é, muito mais a de articular a sociedade em torno da questão da representabilidade das mulheres de um ponto de vista feminista e de causar, a partir daí, abalos simbólicos e concretos no âmbito dos poderes institucionais. Isso não quer dizer negar abstratamente os partidos como caminhos, muito menos negar o poder conhecido de todos. Queremos transformar o poder e não deixá-lo nas mãos de quem o usa há séculos de um modo destrutivo para a sociedade e válido apenas para si. Acreditamos que a destruição das culturas e da vida no planeta também faz parte de uma postura que só o feminismo pode desmontar, à medida que o feminismo é a política da escuta, do cuidado e da atenção ao outro que quebra, que racha, a estrutura tradicional da dominação patriarcal e do capital, íntimas uma da outra. Uma política voltada para a alteridade e não para os fins privados do capitalismo é o que buscamos. Por isso, ocupamos partidos e pretendemos ocupar o poder. Para mudar isso.

Atuamos no trabalho político próprio ao cotidiano, na cultura viva do dia a dia e, como um acelerador de politização, incentivamos filiações e candidaturas de feministas, pois acreditamos que a experiência política precisa acontecer dentro da história concreta. Uma campanha política é capaz de mudar o imaginário e a mentalidade das pessoas, independentemente de seus resultados. Por isso, confiamos nos processos que constroem a política como base de todo o ambiente social – e ecológico – onde convivemos como seres humanos – e não humanos – a partir de nossas diferenças.

Contra toda forma de controle que sempre pode levar à dominação, contra as hierarquias que podem burocratizar o movimento, buscando muito antes as potenciais e singularidades de cada uma, nosso movimento se torna uma força política crescente no cenário nacional.

Nesse sentido, coloca-se em questão a marca do feminismo que fazemos.

Uma definição que sustenta a qualidade plural do movimento é a seguinte: somos uma articulação de feministas de diversas correntes, defendemos o que podemos chamar de “feminismo dialógico” e que, busca o diálogo com partidos e instituições, bem como a sociedade em geral, na intenção de modificar o lugar do poder e sua própria substância.

O feminismo brasileiro cresce em todos os espaços sociais. Grupos e coletivos enriquecem o cenário da luta pelos direitos das mulheres e de todas as minorias. Raça e classe social são questões que vem contribuir com o avanço das práticas feministas historicamente ligadas a gênero e sexualidade. A #partidA nasce nesse cenário, tendo em vista o feminismo interseccional e o feminismo negro urgentes como perspectiva de transformação para o Brasil atual.

Podemos falar de uma pluralidade impressionante de propostas e posturas no âmbito feminista que inclui mulheres de todas as idades, raças, crenças, escolaridades e também sexualidades. Isso estimula o diálogo social entre pessoas e instituições, entre movimentos e, assim, o clima democrático pelo qual a #partidA luta junto a outros movimentos. A intenção desse movimento é somar com outros e aumentar espaços para todas e todxs.

A promessa é o que já temos: alegria política contra os afetos da depressão e da tristeza políticas que até agora nos fizeram acreditar que a política é um território insuportável.

Se fosse, os homens (e os golpistas) não estariam lá.

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