Para além do embate Butler-Lacan
A filósofa estadunidense Judith Butler, principal referência queer no Brasil. FANCA CORTEZ
Nosso escrito parte de uma constatação: na última década, proliferou no Brasil o interesse de parte dos psicanalistas pelos estudos queer. Gostaríamos de esclarecer que optamos por adotar a expressão “estudos queer” – em detrimento de “teoria queer” –, porque a palavra “teoria”, no singular, indica uma homogeneidade que em nada corresponde às diferenças entre diversos autores. O campo dos estudos queer é plural e heterogêneo, permeado por conflitos e por disputas internas.
Da perspectiva psicanalítica brasileira, observamos, pelo menos, três posições divergentes. A primeira consiste em tomar o campo queer como um analisador que pode ser operacionalizado junto à psicanálise, de modo a fazer trabalhar alguns de seus conceitos. A segunda sustenta que psicanálise e estudos queer têm objetos diferentes e que as críticas dirigidas à psicanálise são infundadas, imprecisas e injustas. Por fim, há uma terceira posição, mais radical, na qual o queer é descrito como algo perigoso, um vínculo social perverso que obliteraria a materialidade do corpo, ou ainda como uma concepção que faria da relação gênero/sexo algo tão simples e furtivo quanto trocar de roupa – resultado de uma ação consciente e voluntária do sujeito.
Tais posições se relacionam à recepção dos estudos queer pela psicanálise brasileira, que se dá, aliás, predominantemente na academia e não nas instituições psicanalíticas. Logo, temos uma centralização maciça da discussão entre os estudos queer e a teoria lacaniana. Além disso, as duas
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