Os sofrimentos do velho Balzac

Os sofrimentos do velho Balzac

HELDER FERREIRA

Um dos fundadores do realismo literário – estética que fugia das idealizações, prezando pela objetividade e precisão da linguagem –, Honoré de Balzac podia ser tão romântico quanto Goethe ao escrever para sua amada Condessa Ewelina Hanska, uma mulher casada.

A história do casal não seria indigna de um romance escrito pelo romancista alemão: os dois se apaixonaram por meio de uma intensa troca de cartas, iniciada em 1832 por Hanska, fã do escritor. Tendo se encontrado apenas duas vezes – em 1833, na Suiça, e em 1835, em Viena – os dois prometeram se casar assim que o marido de Hanska morresse. No entanto, em 1842, quando ela finalmente se tornou viúva, Balzac se encontrava em péssimas condições financeiras. Foi só em março de 1850, quando o escritor já estava gravemente debilitado por problemas cardíacos, que cumpriram a promessa – cinco meses antes de sua morte, em Paris.

Datada de junho de 1835, a carta é parte do livro The 50 Greatest Love Letters of All Time (As 50 Melhores Cartas de Amor de Todos os Tempos, em tradução livre), uma antologia que reúne mensagens amorosas assinadas por Virginia Woolf, Oscar Wilde, Franz Kafka, Ernest Hemingway e muitos outros.

Leia abaixo tradução livre da carta de Balzac.

“Junho de 1835

Meu Anjo Amado,

Estou louco por você, tanto quanto se pode ser louco: eu não posso juntar duas ideias sem que você se interponha entre elas. Eu não posso mais pensar em nada além de você. Ao invés de mim, minha imaginação me leva a você. Eu te aperto, eu te beijo, eu te acaricio, mil das carícias mais amorosas tomam posse de mim. Quanto ao meu coração, lá você sempre estará – e muito. Eu tenho uma sensação deliciosa de você lá. Mas, meu Deus, o que será de mim, se você me privou da minha razão? Isto é uma obsessão que, nesta manhã, me aterroriza. Eu me levanto a todo o momento para dizer para mim mesmo: ‘Venha, eu vou lá!”Então eu me sento novamente, movido pela consciência de minhas obrigações. Há um conflito terrível. Isso não é vida. Eu nunca fui assim. Você devorou ​​tudo. Eu me sinto estúpido e feliz assim que me vejo pensando em você. Eu rodopio em um sonho delicioso em que, em um instante, eu vivo mil anos. Que situação horrível! Dominar com amor, sentindo o amor em cada poro, vivendo apenas para o amor, e vendo-se consumido por dores, e preso em mil teias de aranha. Ó, minha querida Eva, você não sabia disso. Eu peguei seu cartão. Está lá diante de mim, e eu falei com você como se você estivesse aqui. Eu vejo você como ontem, linda, surpreendentemente linda. Ontem, durante toda a noite, eu disse a mim mesmo ‘Ela é minha!’ Ah! Os anjos não são tão felizes no Paraíso, como eu era ontem.”

(2) Comentários

  1. Parabéns Helder Ferreira, por seus artigos sucintos e esclarecedores que nos estimulam a ler e conhecer cada vez mais sobre escritores e livros. Enfim, esse mundo fascinante e tão pouco compreendido da Literatura. Abraço.

  2. O Balzac bem que tem uma semelhança física ao Stendhal, com esse jeito bonachão, e certamente deve ter tido influência do Stendhal, o pioneiro do realismo. Eu sempre quis ler O Pai Goriot do Balzac.

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