O trabalho da memória

O trabalho da memória
Michel Foucault, Paris, 1984 (Foto Marc Trivier / Reprodução)
  Do vasto campo semântico ao qual “impressões” nos remete, dois sentidos parecem indicar, com precisão, o que caracteriza esse livro: o primeiro diz respeito à marca, vestígio, rastro; o segundo, a um gênero literário próximo da crônica ou do diário, em que se mesclam sensações, sentimentos, reflexões, relatos, experiências de viagens. Esses dois sentidos, por sua vez, estão entrelaçados ao trabalho da memória, ou melhor, do esforço não apenas de lembrar, a partir desses rastros e vestígios, que, como pegadas deixadas na areia, o vento do esquecimento teima em apagar, mas também o de fixá-los por meio da escrita, para que eles permaneçam vivos e constituam uma espécie de legado às gerações futuras. Impressões de Michel Foucault, o mais recente livro de Roberto Machado, parece ter sido escrito com essa intenção. Nessa perspectiva, ele bem poderia também se chamar História de uma amizade, tal como Gershom Scholem intitulou seu livro de memórias sobre Walter Benjamin. Pois apenas a ‘amizade’, considerada um misto de ‘confiabilidade e integridade’, como o próprio Scholem sinalizou no “Prefácio” de seu livro, pode conceder a esse tipo de relato alguma ‘autoridade’ àquele que narra, uma vez que essas ‘impressões’ não surgem a partir de uma narrativa objetiva, distanciada, precisa e exata, cuja matéria seria apenas a obra – de Benjamin ou de Foucault – como se se tratasse de um trabalho acadêmico. Ao contrário, a compreensão do pensamento, da obra, nos dois casos, também se alimenta das impressões

Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »

TV Cult