“‘O segundo sexo’ ainda tem muito que dizer às mulheres”, diz herdeira e editora de Beauvoir
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Edição francesa de 'O segundo sexo' (1949), obra celebrada de Simone de Beauvoir
Apresento ao público leitor Sylvie Le Bon de Beauvoir, tal como ela mesma gosta de se nomear: “herdeira e editora de Simone de Beauvoir”. Bem mais do que uma filha escolhida e adotada pela filósofa e escritora, ela se fez verdadeira guardiã de suas obras. Entre as duas intelectuais, apesar da diferença de idade, desenvolveu-se uma grande amizade, um firme vínculo de recíproca confiança e solidariedade, recontado numa das obras de autobiografia de Beauvoir, Tout compte fait (1972), traduzida no Brasil com o título de Balanço Final. Após a morte da escritora, competiu a Sylvie Le Bon de Beauvoir a edição de suas cartas, diário de juventude e escritos inéditos.
CULT - De que maneira a senhora compreende a recepção de O segundo sexo hoje? A senhora crê que nas últimas décadas a condição das mulheres mudou tão radicalmente que O segundo sexo tem pouco a nos dizer hoje em dia?
Sylvie Le Bon de Beauvoir - É inegável que, desde algumas décadas, muita coisa mudou para as mulheres: em muitos países elas adquiriram direitos que as colocam, no trabalho, na convivência conjugal e na família, em igualdade com os homens, e continuaram a conquistar sua independência econômica, fazendo serem reconhecidas e aceitas as suas competências em muitas profissões antes a elas vetadas. O acesso à contracepção e a liberdade de aborto são, na história da humanidade, uma revolução sem precedentes, fundamento concreto de todos os outros progressos. O que mudou no Estado de direito nos últimos trinta anos é que agora a voz das mulheres existe,
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