O riso de Odradek: Aprender a ler, rir e se desesperar com Kafka

O riso de Odradek: Aprender a ler, rir e se desesperar com Kafka
Arredores da Wenzelsplatz, em Praga, em 1906 (Library of Congress)
  Franz Kafka: A propósito do décimo aniversário de sua morte” é nome de um dos ensaios mais célebres de Walter Benjamin e certamente um dos ensaios mais importantes da fortuna crítica de Kafka. Se naquele momento, o exercício de rememoração buscava lançar luz e trazer para a discussão pública um autor que era reconhecido apenas em círculos literários mais restritos, no centésimo aniversário de sua morte há poucos autores na história da literatura mundial que sejam tão rememorados, e não apenas nos círculos literários, mas na própria vida cotidiana. Este dossiê, dedicado à memória de Kafka e à sua literatura, tenta repetir o gesto benjaminiano buscando um balanço crítico de sua recepção através do século e tentando chamar a atenção para a marca indelével que ele teve na literatura e na história do século 20, como um dos seus grandes intérpretes e criadores. Mas essa incrível força de reflexão e criação não se colocou como um discurso afirmativo e militante, mas muito mais como um exercício de desconfiança e de deslocamento críticos. Já em seu ensaio, Benjamin recusava a interpretação do testamenteiro e amigo de Kafka, Max Brod, que tomava sua obra pelo lado sério, com uma clara mensagem teológica sobre o afastamento do homem moderno da graça divina. Essa leitura bastante esquemática, hagiográfica, mistificava não apenas a obra, mas a própria pessoa do escritor, tentando transformá-lo em um tipo de santo moderno da Cabala. A leitura de Benjamin, embora também profundamente judaica, expandiu o escopo, unive

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