O Brasil pós-impeachment a partir da vida das mulheres
(Arte Andreia Freire)
A forma como a sociedade brasileira reagiu aos desdobramentos do impeachment da presidenta Dilma Rousseff foi a tônica de parte significativa das análises conjunturais do final de 2016 e do primeiro semestre de 2017: a certeza absoluta, por parte das esquerdas, de que o próximo período seria caracterizado pelo aprofundamento da agenda de reformas políticas que são entendidas como fundamentais para a manutenção dos interesses econômicos das elites. Passado esse primeiro momento de um quase luto, dominado por lamentações sobre um aparente fim da democracia, numa narrativa derrotista e pessimista a respeito dos rumos das organizações políticas e dos movimentos sociais, é preciso retomar os exames do cenário econômico e social do país em perspectivas mais centradas nos processos históricos do capitalismo e seus ciclos, reconhecendo que o período de avanços sociais que antecederam o momento econômico atual está inserido nesses ciclos.
Nessa direção, o que estamos propondo nesse ensaio é localizar as reformas sociais do pós-impeachment em conexão com as lógicas do sistema de produção, que se retroalimentam a partir da permanência de um excedente humano (representado por uma classe que tem cor e gênero) e da constante precarização da vida das trabalhadoras e trabalhadores. Essas características são inerentes ao capitalismo, e não estiveram ausentes no período pré-impeachment. O que se dá nesse momento é uma possibilidade de visualização dessas características em função da maneira como têm atingido também aqueles que at
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