Traduções inéditas de anotações de Rousseau
(Reprodução)
O filósofo fazia observações em cartas de baralho para em seguida escrever os seus “devaneios”; leia traduções inéditas
Carta 3
A felicidade é um estado por demais constante e o homem um ser por demais mutável para que um convenha ao outro. Sólon mencionava a Creso o exemplo de três homens felizes, menos por causa da felicidade de sua vida, mais pela doçura de sua morte, e não lhe concedia dizer que um homem fosse feliz enquanto ainda estivesse em vida.
A experiência provou que ele tinha razão […].
Carta 4
É verdade que não faço nada sobre a terra; porém, quando eu não tiver mais um corpo, também não farei mais nada, e não obstante serei mais excelente, mais repleto de sentimento e vida que o mais ativo dos mortais.
Carta 11
Imagino o espanto desta geração tão soberba, tão orgulhosa, tão afiançada em seu pretenso saber, e que com tão cruel suficiência conta com a infalibilidade de suas luzes a meu respeito.
Carta 12
Não existe mais afinidade nem fraternidade entre mim e eles: eles me renegaram como seu irmão e eu me glorifico por tomá-los ao pé da letra. Não obstante, se ainda pudesse cumprir algum dever de humanidade para com eles, sem dúvida eu o faria, não como fosse com meus semelhantes, mas para com seres sofredores e sensíveis que carecem de alívio. Aliviaria igualmente, e de coração, um cão em sofrimento. Pois, não sendo traidor nem trapaceiro, jamais acariciando um cão por falsidade, mais próximo a mim está um cão do que um homem desta geração.
Carta 17
devaneio
donde concluo que esse estado me era agradável, mais como uma suspensão das dores da vida do que como um gozo positivo […]
Carta 23
A vergonha acompanha a inocência, o crime não a conhece.
Digo ingenuamente meus sentimentos, minhas opiniões, por mais bizarras, por mais paradoxais que possam ser; não argumento nem forneço provas, porque não busco persuadir a ninguém e só escrevo para mim.