No útero, no imaginário, no cotidiano

No útero, no imaginário, no cotidiano
Aborto, gravidez, contracepção e menstruação como expressões do corpo e da cultura (Reprodução)
  “Todas as mulheres em idade fértil podem um dia engravidar – sobretudo em um contexto dominado pela heteronormatividade – mas nem todas desejam se tornar mães, ou desejarão em algum momento.” Está no Dicionário crítico do feminismo – livro coordenado por Helena Hirata, Françoise Laborie, Hélène Doaré e Danièle Senotier – e na percepção das mulheres. Se uma ideia arcaica de feminilidade coloca a obrigação de mulheres serem mães, pensadoras e produtoras de cultura atribuem significados diversos à maternidade. Como poetizou, sem essa intenção, a parteira e antropóloga Naolí Vinaver, “as mulheres têm uma consciência corporal nata e todas temos uma sabedoria ancestral de grande honra: o dom da vida. Algumas dão à luz crianças, com braços e pernas. Outras dedicam sua criatividade, concentração, foco, amorosidade, a gerar vida em forma de projetos, ideias, arte”. Manoela Ziggiatti, documentarista, não foi uma menina que cresceu querendo ser mãe. A ideia da maternidade começou a fazer parte da vida dela aos trinta anos, conta agora, aos quarenta. Sem ter muita paciência com crianças, sempre comemorava quando saía da casa de amigos com filhos: “Puxa, que bom ter fim para mim!”. Até que conheceu Max, o atual companheiro, que tinha muita vontade de ser pai. “Fui criando essa possibilidade em mim, muito lentamente. Acho que só decidi ser mãe porque já havia um pai prontinho.” Dois anos depois da decisão, Manoela engravidou e teve um aborto espontâneo. Adoção, uma possibilidade já a

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