Da crítica da democracia liberal à defesa da democracia agonística
Nietzsche em 1861, em ilustração de Pájak (Arte Andreia Freire/Reprodução)
A combinação dos substantivos “Nietzsche” e “política” ainda é vista por muitos como explosiva e perigosa, e os motivos para essa opinião não são nenhum mistério. Afinal, além da infeliz apropriação do pensamento de Nietzsche pelo nazismo, as posições políticas de Nietzsche destoam fortemente da sensibilidade moderna ocidental.
O que pensar de um filósofo que considerava a Revolução Francesa um desastre para a civilização; o socialismo, a antessala da tirania; o liberalismo, uma escola do mais baixo plebeísmo inglês? E, sobretudo, alguém que considerava a democracia uma forma de nivelamento e aviltamento do homem? A esse respeito, Nietzsche afirma, sem a menor cerimônia, que o movimento democrático é uma forma “decadente” de organização política, que representa a “diminuição”, “mediocrização” e “deterioração do valor” do homem. Essas palavras chocam. Elas devem chocar. E seu propósito era justamente chocar. Nietzsche era de fato um crítico dos ideais políticos modernos, e quanto a isso não se deve edulcorar suas palavras; a estridência dos termos usados, contudo, possuía objetivos estratégicos e retóricos precisos. Vendo no filósofo a má consciência de seu tempo, o extemporâneo que é contra sua época em nome de épocas futuras, Nietzsche, ao questionar nossas convicções mais arraigadas, acaba nos revelando problemas muitas vezes insuspeitos.
Para compreender a motivação da crítica de Nietzsche à democracia, devemos observar duas coisas. Em primeiro lugar, lembrar que Nietzsche nã
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