Ney Matogrosso fala do filme "Luz nas Trevas"

Ney Matogrosso fala do filme "Luz nas Trevas"


A Musa do Cinema Novo, Helena Ignez, dirige o cantor e também estrela Luz nas Trevas, continuação do clássico O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla; filme estreia hoje.

CULT – Como foi adaptar o roteiro deixado por Rogério Sganzerla (1946-2004), com quem foi casada?

Helena Ignez – Quando resolvi mesmo fazer isso, sentia que tinha ali uma história extraordinária. Não ia ser filmada pelo Rogério, mas não poderia desaparecer. Tinha muito material, 600 páginas, mas era literatura, não era ainda um roteiro cinematográfico. Foi um prazer enorme. Trabalhei nele durante quatro anos, mas não tem uma palavra que não seja do Rogério.

Por que escolheu Ney Matogrosso para reviver o Bandido da Luz Vermelha e como foi trabalharem juntos?

Porque ele é um ícone e, como o próprio Jorge Prado, um mito da liberdade, da revolução constante e da transformação. Ney é adorável e é inacreditável como ele, talvez o símbolo gay, seja tão sério. Isso é muito gostoso, você vê uma pessoa muito centrada. Ele se entrega completamente. Uma perfeição, um profissional extraordinário.

Quem acredita que seja o público alvo do filme?
É o público bem humorado, que quer aprender, se divertir com coisa boa, e não está completamente satisfeito com as “comediazinhas” medianas, mas também não quer saber daquele filme cabeça, chato. E também o público de musicais, pois tem uma trilha sonora fantástica. Concluindo, o público é, como diria Rogério, de jovens de todas as idades.

CULT – Como surgiu o convite para esse papel?

Ney Matogrosso – A Helena [Ignez] foi ao camarim ao final de um show meu me fazer o convite. Topei na hora. Cinema é algo que me interessa e era uma continuação de um clássico – não seria uma refilmagem, mas uma história que continuaria.

Como foi ser dirigido pela Helena Ignez?

A Helena não deixou eu me preparar, não quis que eu ensaiasse. Fiquei muito entregue a ela. Eu acabava de fazer uma cena, e ela vinha me dar um feedback, e assim eu fui indo.

Sentiu dificuldade em algum momento?

A primeira cena foi difícil para mim. O personagem está enlouquecido na janela da cela dele, gritando. Era um texto enorme que ele tinha que falar enlouquecidamente, emocionalmente perturbado. Foi a primeira cena que filmei e fiquei tímido, envergonhado de fazer isso, porque o outro lado do corredor estava cheio de atores nas celas, e eu me senti inibido. Mas consegui superar: pedi que pusessem o texto na parede, só para não perder o fio da meada.

O que achou da qualidade dos diálogos?

Gosto muito do texto, de maneira geral. É poético, mas, em alguns momentos, tem humor também, dentro daquela loucura toda que está acontecendo. Isso é Sganzerla, né?

Acredita que haja semelhanças entre você e o personagem?

Talvez um pensamento similar no sentido de ser contestador, transgressor. Acho que isso me aproxima dele.

(1) Comentário

  1. A LUZ DO TRANSGRESSOR – O “Luz” (assim que ele era chamado no filme original) nasceu clássico. Malandro e esperto, louco e visionário, aproveitador e ingênuo, o filme daria um belo romance. Não foi por acaso que o roteiro da continuação tinha 600 páginas. A escolha do Ney Matogrosso revela a dualidade do bandido, sério e bem humorado. Transgressor e anárquico, o filme original quebrava tabus e satirizava o fim dos anos 1960, em plena ditadura. Agora, nos tempos pós-modernos, a releitura será um interessante painel… O Luz ainda vive por aí, em muitos cantos do Brasil. Anárquico , sempre.

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