Recusar o livro digital não fortalece a literatura, afirma Frédéric Martel
Estante de livros com seleção de cerca de 7 mil exemplares que Antonio Candido guardou em seu apartamento (Foto: André Seiti)
Na mesa “Descaminhos da Literatura” – mediada por Raquel Cozer -, Frédéric Martel, Mariza Werneck e Joca Terron debateram a “morte do livro”, abordando como e se a transformação do papel em plataforma digital poderia alterar o modo como fazemos e entendemos literatura.
Para Frédéric Martel, a sociedade está passando por dois fenômenos: a mundialização da cultura e a expansão da tecnologia digital. Afirma que, nesse contexto, “as hierarquias culturais estão se apagando e a diversidade cultural se expandindo”.
A respeito do livro digital, opina que o suporte não importa, mas o que pode mudar é o conceito do livro de não-ficção “acabado”. “Quando um produto é publicado, torna-se definitivo. A enciclopédia finalizada, pronta, hoje não existe mais. Ela deve ser mudada e corrigida constantemente, como a Wikipedia”. E ainda defende que “não é recusando o livro digital que ficaremos mais fortes, não é militando a favor de uma França ou de um Brasil menores, fechados” (a partir dessa frase, Martel menciona diversos sinônimos para a palavra “menor”, fazendo uma brincadeira com o tradutor simultâneo da palestra).
Para ilustrar seus argumentos, Joca Terron leu um texto próprio que remetia a uma crônica. Mesclando elementos da cultura pop com citações de grandes autores como Jorge Luis Borges, ele narrou o desenvolvimento da literatura e do conceito de cultura. Em meio ao avanço digital, a questão da permanência ou abolição do direito autoral entrou em pauta. Ao ser questionado se a falta deste impede o processo criativo de autores, argumenta que “a criação é pura cópia, sempre foi. Se baseia em reformulações e reescritas de ideias”.
Mariza Werneck também apresentou suas opiniões através de um texto de sua autoria. Em tom nostálgico, contou episódios da relação de influentes autores da literatura, como Virginia Woolf, com seus livros. Mas mantém uma posição otimista em relação à mudança de plataforma: “A cultura humana não parece ter sido feita para durar, mas para renascer novamente a partir de suas cinzas”.