Privado: Mulheres

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Bernardo Kucinski, dezembro 2013 — Vó, quando eu fizer dezoito anos vou procurar meu pai. A velhinha gelou. De onde foi que ela tirou isso? Quanto fizer dezoito anos! A menina só tem oito! Deve ser essa novela da televisão. Ou alguma besteira que falaram no grupo. Assustada, telefonou para a filha. — Renata, vem logo pra casa. A Tininha tá com problema. — Que problema, mãe? Tô no meio do serviço! — Não interessa serviço, vem logo pra cá. — Mas o que é, mãe, ela se machucou? — Não. Não é nada disso. Baixando a voz, a velha completou: —Ela disse que quando crescer vai procurar o pai. — Tô indo, mãe.  Dez minutos depois, Renata chega. Encontra a menina na sala, entretida com um livro, atravessa a cozinha depressa e procura a mãe, que está no quintal pendurando roupa. — Como foi que ela falou, mãe? — Ela só disse que quando fizer dezoito anos vai procurar o pai. — Mas de onde ela tirou isso, mãe? — É o que eu queria saber. — O que ela estava fazendo na hora que falou isso? — Ela estava na sala olhando aquele livro que você comprou na semana passada. De repente, ela falou isso. Fechou o livro, olhou pra mim e falou só isso. — E o que eu faço, mãe? — Eu é que sei? Melhor pensar bem. — Eu sabia que esse dia ia chegar, mas não tão cedo assim. — Pois chegou. Melhor falar a verdade. — Como, falar a verdade, mãe!? — Mentir é que não pode. — E pode falar que eu fui es... — Shii... Não quero ouvir nunca essa palavra, e fala baixo. Deve ter um jeito de explicar sem falar essas

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