As incontáveis memórias entre memoriais e os sentidos de um passado que não existe
Em sentido horário, a partir de cima, à esquerda: fotografia extraída do livro “Wilhelm Brasse: Number 3444 -- Photographer, Auschwitz 1940-1945”; detalhes de duas peças produzidas pela Associacion de Mujeres Tejiendo Sueños y Sabores de Paz, da Colômbia; detalhe de trabalho do Keiskamma Tapestry Project, da África do Sul (Reprodução/Fotos do autor)
A Edson Sousa, pelas lágrimas e sorrisos que sempre compartilhamos, mesmo quando a esperança é pouca, e a utopia, uma tarefa.
As políticas de memória constituem-se como espaços móveis, mobilizáveis e mobilizadores de muitas formas. São feitas de obras enraizadas no chão de cidades e países, como parte de políticas de memória amparadas por governos e Estados nacionais; de ruínas, restos e traços protegidos ou largados no espaço e no tempo; de movimentos de luta contra o emudecimento, o apagamento e o silenciamento, e da palavra de uma pessoa – qualquer pessoa – que decida empunhar a própria palavra para incluí-la entre os dizeres das catástrofes (des)humanas. Este último é o ato que funda o testemunho como um dos vértices da transmissão possível de uma experiência liminar e, para sempre, dolorosa no ato mesmo de sua transmissão.
Testemunhar revela a dor, que se perfaz em ato de dizer como grito, para ensejar alguma comunhão, partilha e esperança num futuro que ainda não há.
Nos últimos anos, um dos braços de minhas pesquisas no campo da psicanálise e da memória social e política foi frequentar memoriais em países distintos. A princípio, a própria existência de um memorial me animava. Era, e é, um sinal de esforços contra o esquecimento, estratégias de arquivamento e apreço pelos que se foram e por seu sofrimento, suas lutas, e o acolhimento simbólico de seus corpos, de seus atos e palavras.
Contudo, num segundo momento de minhas andanças, passei a me interessar pelas contradições, fraturas, fragme
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