Memória, verdade: saber fazer com os restos

Memória, verdade: saber fazer com os restos
Juca Martins, Repressão à greve dos bancários,1979 (Divulgação / Arte Revista Cult)
  Um sujeito atormentado pelo corpo Posso não me lembrar de tudo, em detalhes. Mas há fatos que, por serem tão viscerais em seu acometimento carnal, deles não se esquece, jamais! Não há estabelecimento da verdade histórica sem o recurso à memória, o que é necessário. Mas é certo também que não se pode dar conta de tudo. Trata­‑se, quanto à verdade, de restabelecê­‑la articulando­‑a ao desejo que sempre opera contra a violência do silêncio imposto pelo trauma. Se há um indizível do trauma histórico das violências diversas perpetradas pelo terrorismo de Estado da Ditadura Civil­‑Militar – torturas, assassinatos e desaparecimentos de pessoas –, hoje há o clamor de uma inadiável tarefa que é a de construir novas ficções jurídicas para suportar o sofrimento de muitos sujeitos. Aposta­‑se nessas invenções para a construção de algo mais suportável sobre o vazio do trauma. Daí que quando se diz “verdade” não se trata exatamente só de buscar a verdade dos acontecimentos, mas da busca do sujeito que a transporta naquilo que do gozo se escreveu em seu próprio corpo, no sentido em que possa subjetivar o impossível e o indizível do trauma. Se o trauma é, como nos ensinou Freud, aquilo que escapa à regulação do princípio do prazer, o que está por fora da cadeia de representações inconscientes, o que não se inscreve, também é algo que não se deixa esquecer, que insiste e que não se apaga. Trauma que pode levar à angústia de um desamparo – Hilflosigkeit – um encontro com o inumano do mal, da pulsão

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