Arcas de Babel: Mariana Basílio traduz Louise Glück

Arcas de Babel: Mariana Basílio traduz Louise Glück
Mariana Basílio traduz um poema de Louise Glück (Fotos: Divulgação e Sigrid Estrada/AP

 

A poeta estadunidense Louise Glück, ainda inédita em livro no Brasil, tinha acabado de receber o Prêmio Nobel de Literatura e já começavam a aparecer em blogs e nas redes sociais inúmeras traduções de seus poemas. Essa recepção espontânea, ainda não absorvida pelo mercado editorial, mostra a vitalidade da produção poética contemporânea e sua íntima ligação com a experiência de traduzir. Para dar visibilidade a essas traduções brasileiras já existentes e apresentar a obra de Louise Glück a um público mais vasto, a Arca de Babel desta semana é coletiva.

Essa edição especial reúne traduções de poemas de Louise Glück por seis poetas: Camila Assad, Mariana Basílio, Piero Eyben, Guilherme Gontijo Flores com Adalberto Müller e Thiago Ponce de Moraes, a quem agradeço pelas belas contribuições. 

Mariana Basílio (Bauru/SP, 1989) é escritora, poeta, tradutora e ensaísta. Possui trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais. Em 2018 lançou o terceiro livro, Tríptico vital, poema longo premiado com o ProAC 2017, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Em novembro deste ano lança seu novo livro, Mácula, premiado com o ProAC 2019 e lançado pela Editora Patuá. Ela traduz o poema “Fim da linha”.

 

Fim da linha

 

Eu disse: “Ouça, anjo, me afasta desse pedaço”.
Eu disse: “Me divorcie dessa merda, dessa dieta constante
De abuso com cereais,
Com vodka e suco de tomate,
Seus billets doux plantados no meio dos bricabraques”.
Ficando era minha forma de revidar.
Eu cuidei da sua anemia e lavei a louça por
Quatro meses – toda viciosa,
Coabitação padrão. Mas meu querido, meu querido,
Se agora eu sonho com suas mãos, seu cabelo,
É a vivacidade desse fim que
Eu sinto falta. Como xadrez. Mente contra mente.

 

Dead end

 

I said, “Listen, angel, wean me from this bit”.
I said, “Divorce me from this crap, this steady diet
Of abuse with cereal,
With vodka and tomato juice,
Your planted billets doux among the bric-a-brac”.
Staying was my way of hitting back.
I tended his anemia and did the dishes
Four months – the whole vicious,
Standard cohabitation. But my dear, my dear,
If now I dream about your hands, your hair,
It is the vividness of that end
I miss. Like chess. Mind against mind.


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