Liberais, ontem e hoje

Liberais, ontem e hoje
Exemplos como o "Manifesto Brasil 200 anos" representam um tal liberalismo que é um desserviço ao debate público (Arte Andreia Freire)
    No começo de fevereiro, o empresário Flavio Rocha, CEO das Lojas Riachuelo, lançou em Nova Iorque o manifesto “Brasil 200 anos”. Trata-se de um chamado às elites empresariais – parte dos “98% da população brasileira produtiva”, segundo o CEO – para que assumam a liderança de um projeto liberal do país. Esse projeto é basicamente uma afirmação puro sangue dos princípios do antiestatismo e do livre mercado contra “regulações insanas e intervencionismo retrógrado”. Além do liberalismo econômico, Flavio Rocha também conclama as pessoas a adotarem “ideias conservadoras no plano dos costumes”. O manifesto surfa, à sua maneira, na onda gigante do antipetismo. No lugar da luta de classes da esquerda, opondo pobres e ricos, a perspectiva de que ambos, pobres e ricos, fazem parte do setor “produtivo” da população, a que se opõe uma minoria de parasitas do Estado, tão mais danosa, portanto, quanto maior for este. Fundamentalmente, nada há de novo nas ideias apresentadas. Nem mesmo a contradição entre a ideologia liberal e um apelo ao conservadorismo nos costumes, mais reacionário do que propriamente conservador, e logo mais autoritário do que propriamente liberal. Pois, como se sabe, esse apelo vem se traduzindo em coisas como a criação do fantasma da “ideologia de gênero”, que transforma o princípio do neminem laedere, do gozo desimpedido da liberdade, desde que não prejudique o direito de outrem – esse sim um princípio liberal – em uma fictícia doutrinação cujo objetivo seria promover uma la

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