Introdução
Edição do mês
Este dossiê pretende reabrir a pesquisa iniciada há mais de dez anos no Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da Universidade de São Paulo, cujos resultados foram publicados no livro Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico (Autêntica, 2010). Se, como Vladimir Safatle sustenta em seu artigo para o dossiê, a gestão médico-psicológica do sofrimento e da crise psíquica permanece como uma marca central da governança neoliberal das subjetividades, as profundas reconfigurações ambientais, sociais, culturais, religiosas, políticas e econômicas que, de 2014 aos dias hoje, repercutiram tanto em escala nacional quanto global exigem a atualização daquela pesquisa e a reavaliação dos seus modelos teóricos, a maioria deles provenientes da Europa Central e dos Estados Unidos.
Deles se extrai a tese de que o neoliberalismo produz formas de subjetivação caracterizadas pela identificação ao ideal do empreendedor de si, pela exigência insaciável de performance e gozo, e pela procura incansável da autenticidade absoluta, tese que se converteu em um verdadeiro lugar-comum do pensamento crítico brasileiro interessado em avaliar as modalidades de sofrimento psíquico da era neoliberal.
A decisão pelo emprego do conceito de dispositivo para se referir à governamentalidade neoliberal não é fortuita. Tal conceito, forjado por autores como Sueli Carneiro, Michel Foucault e Gilles Deleuze, tem a vantagem de lançar luz sobre as dinâmicas heteróclitas de composição de saberes, poderes e subjetividades, que são metaestáveis –
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