Instituto cria “clube de assinaturas” para disseminar acervo de Hilda Hilst

Instituto cria “clube de assinaturas” para disseminar acervo de Hilda Hilst

Sala de Memória Casa do Sol (Foto: Divulgação/Instituto Hilda Hilst)

Amanda Massuela

Há quase dois anos, o antigo quarto de Hilda Hilst na Casa do Sol se transformou em uma sala de memória. Entre as páginas dos mais de três mil livros da biblioteca pessoal da autora foram encontrados poemas inéditos, ilustrações nunca antes vistas, trechos de diários e até anotações que dão pistas sobre seu processo criativo.

Essas são algumas das “pérolas” que, segundo o diretor do Instituto Hilda Hilst, Daniel Fuentes, serão colocadas em circulação por meio do recém criado Clube Obscena Lucidez, um sistema de assinaturas que a cada mês reunirá quatro ou cinco itens do acervo da autora em caixas especiais enviadas aos associados. Além de materiais inéditos relacionados à obra de Hilda, também serão incluídos itens mais pessoais como cartas, agendas, listas, filmes em super 8 e até desenhos.

“Sempre haverá algo ligado à curadoria do acervo, como reproduções de pôsteres, fac-símiles, postais colecionáveis – em tiragens inéditas, exclusivas e numeradas – ou objetos produzidos a partir desse material”, adianta Fuentes, que estuda a possibilidade de reproduzir os arquivos em áudio gravados por Hilda durante suas tentativas de comunicação com outros planos. Além das caixas mensais, ele afirma que, quatro vezes por ano, os associados receberão “mimos” como livros, velas, flâmulas e zines.

Com o clube, a intenção do Instituto é preservar tanto o acervo de Hilda Hilst quanto a Casa do Sol, chácara próxima a Campinas para a qual a autora se mudou em 1966 e onde produziu mais de 80% de sua obra. Ambos sofreram com a queda das atividades por falta de recursos em 2016, segundo Fuentes, e por isso parte do lucro com o clube será destinado à manutenção e preservação da propriedade, tombada como patrimônio histórico em 2011.

“A ideia do clube é ativar nossos seguidores e nossa rede de apoiadores para esse esforço de manutenção do legado de Hilda. Ao mesmo tempo é uma ação interessante para o conteúdo do acervo, porque muitos desses materiais preciosos não chegariam ao público por caminhos normais do mercado”, afirma o diretor.

Nascida em Jaú, interior de São Paulo, em 1930, Hilda Hilst é uma das mais importantes escritoras brasileiras, autora de livros como A obscena Senhora D. e Fluxo-floema. Tanto na poesia como no teatro ou na prosa ficcional, transformou sua escrita em um lugar de confluência entre opostos. Hilda morreu aos 74 anos repetindo os lamentos que sempre a acompanharam durante a vida: dizia-se mal lida, incompreendida e pouquíssimo reconhecida pelo conjunto de sua obra, que neste ano foi comprada pela Companhia das Letras.

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