Hilda Hilst: a gestão de um legado
Hilda Hilst e Daniel Fuentes na Casa do Sol (Foto Instituto Hilda Hilst)
Não lembro o dia exato que me contaram, mas provavelmente foi meu pai em algum momento ao redor dos meus 14 ou 15 anos. Na minha memória não houve uma conversa específica, mas várias que traziam à tona o assunto e foram me fazendo compreender a importância do que herdaria e de como isso deveria ser cuidado. Hilda mesmo nunca tratou do assunto comigo, mas a verdade é que passei a fase final da minha adolescência sabendo que seria herdeiro de seus direitos e que este presente vinha com uma grande dose de responsabilidade que em algum grau faria parte da minha vida adulta.
A verdade é que em 2004, quando Hilda morreu, a única parte descomplicada do testamento eram seus direitos autorais, todo o resto fazia um caldo muito complexo de herdeiros e dívidas de IPTU. No mesmo ano meu pai, que havia ficado com a Casa do Sol, criou o Instituto Hilda Hilst (IHH) com o intuito de juntar forças para garantir a preservação da Casa, então com vários processos de execução para os quase 3 milhões devidos à Prefeitura de Campinas.
A Casa, e não a literatura, era a urgência. A ação do IHH nos primeiros anos de vida foi gerir este passivo com advogados e constantes visitas às instâncias municipais de cobrança. Quem capitaneava esta história era meu pai, e eu, ainda na graduação, participava lateralmente deste xadrez que à época parecia insolúvel.
Sempre foi claro este duplo legado de Hilda, direitos autorais e Casa do Sol, cujas demandas e potencialidades, ainda que obviamente em diálogo, apontavam para diferentes conjuntos de ações nec
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