Habitar a linguagem: A influência surrealista pós-Freud

Habitar a linguagem: A influência surrealista pós-Freud
André Breton em fotografia de Man Ray de 1931 (Bonhams UK)
  “O surrealismo é o ‘raio invisível’ que um dia nos fará vencer nossos adversários. ‘Não tremes mais, carcaça.’ Neste verão, as rosas são azuis, a madeira é de vidro. A terra envolta em seu verdor me faz tão pouco afeito quanto um fantasma. Viver e deixar de viver é que são soluções imaginárias. A existência está em outro lugar.” André Breton, O manifesto surrealista, 1924 A relação do Surrealismo com a psicanálise pode ser explorada de diferentes perspectivas. A mais evidente é a influência exercida por Freud no movimento. Suas teses sobre o inconsciente, o sonho, a sexualidade descentralizaram a consciência e o ser racional do comando da vida psíquica e inspiraram o movimento em seus propósitos mais revolucionários. No entanto, sabemos da recusa de Freud em aceitar o apadrinhamento àqueles jovens que procuraram chamar sua atenção de diversas maneiras. Outra perspectiva para explorar a relação entre a psicanálise e o Surrealismo é pensar em Jacques Lacan. Mesmo antes de iniciar sua jornada psicanalítica, ele se deixou inspirar pelo Surrealismo, fez parte de sua história e inseriu, do começo ao fim de sua obra, um diálogo com importantes personagens, técnicas e manifestações surrealistas, principalmente a poesia. Há ainda uma terceira via possível para a exploração da relação, associada à forma como certas ideias surrealistas trouxeram possibilidades para sustentar algumas das teses psicanalíticas mais elaboradas de Lacan, sobretudo, mas não somente, as relativas à linguagem no momento final de sua ob

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