Grupo anônimo que denuncia machismo na arte, Guerrilla Girls traz performance ao Masp

Grupo anônimo que denuncia machismo na arte, Guerrilla Girls traz performance ao Masp
Guerrilla Girls, em Nova York, 1985 (George Lange/Divulgação)

 

Em 1984, o Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, promoveu a exposição An international survey of recent painting and sculpture, que buscava reunir os artistas mais importantes da década. Entre 165 pintores e escultores selecionados pela curadoria, porém, só 13 eram do sexo feminino. Cansadas da baixa representação dentro do mundo da arte, um grupo de sete mulheres decidiu protestar na frente do museu – e, depois de ignoradas, passaram a espalhar cartazes pela cidade enquanto usavam máscaras de gorila. Surgia, ali, um dos movimentos feministas mais importantes do mundo da arte: o Guerrilla Girls.

Ao longo de 32 anos, 55 mulheres passaram pelo grupo, algumas por décadas, outras por poucas semanas. Todas são anônimas, protegidas por pseudônimos como Frida Kahlo, Käthe Kollwitz e Zubeida Agha – e pelas máscaras, adotadas pela semelhança sonora entre os termos “guerrilla” e “gorila”, em inglês. “Nossa identidade pessoal é menos importante do que aquilo que defendemos”, explicam as integrantes no site do coletivo.

No próximo dia 29 de setembro, elas vêm ao Brasil para apresentar uma performance no Masp, onde apenas 6% das obras do acervo são de mulheres, segundo levantamento do próprio coletivo. Os 100 cartazes mais icônicos do grupo ficam em exposição no Masp até o dia 14 de fevereiro na mostra Guerrilla Girls: gráfica, 1985-2017, que integra a exposição História da sexualidade. O grupo já esteve por aqui em 2010

A ideia é reconstruir a história do grupo desde a sua formação, em 1985, mostrando sua presença em cidades como Nova York, Los Angeles, Istambul, Londres, Roterdã, e Xangai, além das passagens por algumas das instituições de arte mais importantes do mundo – o Tate Modern, em Londres, e o Centre Pompidou, em Paris, por exemplo.

Arte gráfica feita pelas Guerrila Girls em 1989 (Reprodução)
Arte gráfica feita pelas Guerrila Girls em 1989 (Reprodução)

Luta bem humorada

Com elementos da cultura pop e bom humor, os cartazes são parte fundamental da história e da estratégia de luta das Guerrilla Girls. Isso porque, décadas antes da internet, espalhar pôsteres provocativos e críticos era a única maneira com a qual um grupo de jovens mulheres poderia alertar sobre os desequilíbrios nas artes, ainda mais quando seus protestos tinham pouca adesão e eram facilmente ignorados pelas grandes galerias e pelos museus. Ao contrário das feministas dos anos 1970, que viam nas manifestações a melhor ferramenta de luta, as Guerrilla Girls preferiram manter a leveza, na expectativa de atrair mais apoiadores para o movimento.

No início das suas atividades, por exemplo, convidavam os visitantes dos museus a fazerem o que chamavam de weenie counts (algo como “contagem de salsichas”): contar o número de artistas homens e o de mulheres em cada exposição. Também conversavam com artistas mulheres para entender aquela realidade, ouvindo suas demanda e levantando informações sobre as desigualdades de gênero na arte com as quais ilustravam seus cartazes e, consequentemente, seu ponto de vista. “Nós questionamos a ideia da narrativa mainstream ao revelar a história real que a sustenta, o subtexto, tudo aquilo que é ignorado e o que é injusto”, escrevem. 

O grupo também questiona o grande número de nus femininos expostos, colocando-os como uma contradição à falta de artistas do sexo feminino: em 1989, 85% dos nus do MoMA representavam corpos femininos, enquanto apenas 5% dos artistas eram mulheres. “Mulheres só podem entrar nos museus se tirarem as roupas?”, questionaram em um dos cartazes mais famosos do coletivo. Além dos cartazes, as Guerrilla Girls puseram em prática mais de 100 projetos, como vídeos educativos, performances e manifestações, além da publicação de cinco livros sobre feminismo e feminilidade.

“Os museus nos dizem ‘temos 30% do acervo composto por artistas mulheres, não é maravilhoso?’. Nós respondemos: onde estão os outros 20%?”, disseram ao The Guardian. Embora tenham nascido como um movimento feminista focado em denunciar as desigualdades de gênero na arte, hoje as Guerrilla Girls abrangem também outros movimentos, como a luta antirracista e a militância LGBT. “Nosso maior projeto é ter formas cada vez mais criativas de protestar.”

Guerrilla Girls: gráfica, 1985-2017
Onde:
no Masp, avenida Paulista, 
Quando:
de 29/09 a 14/02
Quanto:
R$ 30, grátis às terças

Errata: Diferentemente do publicado, esta não é a primeira vinda do Guerrilla Girls ao Brasil; em 2010 o grupo esteve no país para a 29º Bienal de São Paulo e para a Mostra Sesc de Artes.

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