Gilda ou as mulheres e a história das ideias

Gilda ou as mulheres e a história das ideias
Gilda de Mello e Souza construiu uma carreira surpreendente, marcada por transbordamentos diversos (Foto: Reprodução)
  Gilda de Mello e Souza é sem dúvida uma figura fascinante. Embora sua postura aristocrática a faça parecer distante da maioria de nós – algo que notamos em sua imagem, nas fotografias que dela dispomos, mas também na erudição e na elegância de sua escrita –, desde o primeiro contato constatamos ser difícil ignorá-la. A primeira mulher a ser contratada pelo Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, em 1954, duas décadas depois da fundação da USP, Gilda construiu uma carreira surpreendente, marcada por transbordamentos diversos, os quais nos impelem a refletir sobre a difícil tarefa de construção da figura pública de uma intelectual.  É certo que a origem social privilegiada lhe trouxe oportunidades ímpares, a começar pelo fato de que, para elaborar seus primeiros escritos, Gilda pôde contar, desde muito jovem, com a orientação de Mário de Andrade: primo em segundo grau, o escritor às vezes visitava a fazenda onde ela passou a infância, em Araraquara, no interior de São Paulo. Nascida em 1919, ela ingressou na USP em 1937 e formou-se em filosofia em 1940. Uma década depois, conseguiu defender sua tese de doutorado na mesma universidade, sob a orientação do sociólogo francês Roger Bastide – algo que poucas mulheres teriam condições de realizar em meados do século passado. A tese, cujo tema era a moda no século 19, teve um destino interessante, capaz de expressar os percalços vividos pela autora. Voltaremos a esse assunto adiante. Por ora, salientemos que em cada passo de sua formação encontramos em Gi

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