Foucault e a coragem da verdade
Os filósofos Michel Foucault, à esq., e Jean-Paul Sartre, em manifestação em fevereiro de 1972 (Marc Simon / Reprodução)
A presença e a significação de Foucault fica muito empobrecida e mesmo banalizada se a congelarmos na figura unilateral do “crítico do humanismo”. É melhor lembrá-lo pela ligação considerada por ele inseparável entre filosofia e vida, cuja melhor expressão é o seu curso, recém-publicado, sobre a coragem da verdade. Foucault, um nome para múltiplas máscaras, é plural, muito mais complexo do que imaginam seus detratores. Paradoxalmente, ele foi também um combatente por direitos do homem.
Pouco antes de sua morte em 1984, Foucault interveio publicamente no caso dos boat people, envolvendo apátridas e imigrantes clandestinos vítimas de pirataria e desumanidade, numa atuação solidária, cuja repercussão deu origem à criação em Genebra de um comitê internacional contra a pirataria, sediado na Organização das Nações Unidas. E esse aspecto da militância de Foucault encontra uma atestação ímpar em suas passagens pelo Brasil, razão pela qual a retomo nesse contexto. No início de outubro de 1975, Michel Foucault chegava mais uma vez a São Paulo, onde, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, ministrou uma série de conferências sobre psiquiatrização e antipsiquiatria, reflexão já então preparatória dos futuros trabalhos sobre o poder psiquiátrico.
Naquela ocasião, Foucault tomou conhecimento de uma série de prisões arbitrárias realizadas no país pelas autoridades políticas. Os estudantes universitários organizaram uma manifestação na qual denunciavam a prisão violenta de professores, estudantes e func
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