Em megaexposição, pesquisadores materializam conceitos de Vilém Flusser

Em megaexposição, pesquisadores materializam conceitos de Vilém Flusser
O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser, tema de megaexposição no Sesc Ipiranga, em SP (Ed Sommer/Divulgação)

 

Performances, música, vídeos, colagens, textos, cartas. A imensa exposição Flusser e as dores do espaço, em cartaz no Sesc Ipiranga, foi aberta nesta terça (10) com objetivos desafiadores: materializar e democratizar o pensamento de um dos filósofos da comunicação mais abrangentes (e mal compreendidos) em seus estudos, o tcheco-brasileiro Vilém Flusser (1920-1991). De 10 de outubro a 28 de janeiro, os visitantes podem experimentar de forma física alguns dos conceitos mais conhecidos de Flusser, como a “caixa-preta” e a “terceira catástrofe do homem”.

“A maioria vê Flusser como sua ‘caixa-preta’, algo difícil de compreender e acessar. Mas não é assim. Quando você se propõe a entender suas metáforas, percebe que o que ele diz é muito claro”, explica a professora Camila Garcia, que ao lado do professor Norval Baitello Junior assina a curadoria da exposição.

Ambos integram o Arquivo Vilém Flusser São Paulo, responsável pela manutenção de mais de 40 mil textos do filósofo no país – e também por trazer ao Brasil a exposição originalmente montada na Universidade das Artes de Berlim, na Alemanha, em 2015. Segundo Garcia, a própria criação do arquivo brasileiro, em outubro do ano passado, serviu de gancho para a mostra, planejada em conjunto com a viúva do filósofo, Edith Flusser.

São nove ambientes ocupados por tentativas de “materialização” dos conceitos-chave da obra do filósofo. O mais conhecido deles, a “caixa-preta” – do livro Filosofia da caixa preta – Ensaios para uma futura filosofia da fotografia (1983) – é representado pela instalação “Caixa-preta sensorial”. Trata-se de um ambiente cheio de aparelhos como câmeras, projetores, rolos de filme, celulares e chapas de vidro – quase como um estúdio fotográfico -, que o público é convidado a tatear, no escuro, enquanto ouve um áudio. Aos sábados, uma performance interativa do Grupo Sensus é apresentada dentro da “caixa”, instigando ainda mais a curiosidade dos visitantes.

Já em “A casa furada”, uma sala totalmente branca tem as paredes preenchidas por telas de TV, furos, espelhos de tomada e aparelhos celulares ligados – um espaço caótico e inabitável que invoca o que o filósofo chamou de “terceira catástrofe do homem” (as duas primeiras foram o bipedismo e a sedentarização).

Em seus livros, Flusser abordou temas como computação gráfica e internet, chegando a prever acontecimentos tão específicos quanto a invasão das residências pelas notícias e a dominação do mundo pelas pontas dos dedos humanos – algo que acontece nas telas dos smartphones. “Na época, ele era tido como um louco, ninguém entendia o que ele estava falando”, diz Garcia. “Mas hoje percebemos que ele falava da nossa realidade.”

Outras salas da exposição são ocupadas por textos, vídeos de entrevistas, críticas de arte publicadas no jornal O Estado de São Paulo e correspondências. A mostra também terá performances: em “Vampyroteuthis infernalis”, os artistas Mirella Brandi e Mueptmo tentam materializar a profundeza em que vive o molusco descrito pelo autor em seu livro de ficção homônimo. 

Nascido em Praga, em 1920, Vilém Flusser foi obrigado a deixar a Europa com a ascensão do nazismo. Aos 20 anos, fugiu para o Brasil e estabeleceu-se em São Paulo, onde viveu por 32 anos, atuando como professor de filosofia, jornalista e escritor. Fortemente influenciado pelas estruturas sociais brasileiras, foi aqui que Flusser publicou grande parte de sua obra – mais da metade dela, segundo Garcia, originalmente escrita em português. O pensador só sairia do Brasil em 1972, fugindo da ditadura militar, e morreria em Praga, em 1991, em um acidente de carro.

Flusser e as dores do espaço
Onde:
Sesc Ipiranga, rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo – SP
Quando:
até 28/01; ter a sex das 9h às 21h30; sab das 10h às 20h30; dom das 10h às 18h
Quanto:
gratuito

(1) Comentário

  1. Satisfeito ver divulgação obra do Willém Flusser, li há muitos anos o livro Língua e Realidade. tornei-me ceramista e não esqueci o maravilhoso e sintético esquema linguístico que contempla a Música e a Plástica, veiculei-o em dois painéis de cerâmica de aproximadamente 1m2 que estão instalados aqui cidade de Porto Belo.

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