Fim de uma zona de espera sem fim

Fim de uma zona de espera sem fim
Acampamento para refugiados em Idomeni, na Grécia (Divulgação)
  Não começou em Auschwitz, não vai terminar em São Paulo. Quando todo o mundo parece insistir em marcar desencontros com o futuro, é nos campos de refugiados que se revela, mesmo a contragosto, uma autoimagem didática do tempo presente. Em meio a flagelos de guerra e limiares de naufrágio, entre passado recente e porvir iminente, tamanha atualidade se quer tão absoluta quanto intransitiva. Se viver segue sendo muito perigoso, dizê-lo de novo, em atmosfera de colapso, seria pouco menos que chuviscar no molhado. E tem mais: a crer no que se lê em Hannah Arendt, sabedora desse e de muitos assuntos conexos, cenas cotidianas da vida posta em perigo, por diminutas que pareçam à primeira vista, podem ser as primeiras gotas de um dilúvio. Pois então, o caráter algo coloquial do livro de Gabriel Bonis banha nessas cenas (rápidas) a que se resumem os capítulos (concisos), conferindo concretude às pequenas e indispensáveis coisas da vida – a dos refugiados, antes de tudo. O que o autor quis, ao escrever, “foi recontar narrativas de indivíduos e famílias que abandonaram seus países de origem devido a conflitos e perseguições político-religiosas (entre outros tipos de perseguição) em busca de proteção no exterior, além de histórias de quem os ajudou in loco no norte da Grécia e de como a crise afetou os moradores de Idomeni”. Deslocados de guerra a um povoado rural, até então com pouco mais de 150 habitantes; imobilizados, com o encerramento da rota dos Bálcãs, nos limites de um “centro” ele mesmo deslocado (de centro de recepç

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