Escuta do sofrimento psíquico no neoliberalismo brasileiro: Levantar o véu da raça
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Sou favorável ao direito da mulher de interromper uma gravidez indesejada. Sou cristão, católico, mas que visão é essa? Esses atrasos são muito graves. Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na lagoa Rodrigo de Freitas, na Tijuca, no Méier e em Copacabana, é tudo padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal”, declarou publicamente em 2007 o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral.
Há muitas maneiras de se ler o sofrimento psíquico e de intervir sobre ele. A escuta clínica tem a ver com o modo como essa leitura se realiza numa prática discursiva. Até nosso século, a perspectiva global de construção diagnóstica era tomada por unívoca e universal, asséptica e apolítica. Qualquer dissidência mental patológica ou qualquer modo diverso de ocupar um corpo eram classificados no rol das exceções locais – particulares de um genérico universal comum.
Frantz Fanon, psiquiatra martiniquense e marco do pensamento decolonial, não foi o primeiro a discutir, com sua sociogenia, essa lógica. Porém, foi certamente quem inaugurou a leitura clínica decolonial de escuta do sofrimento psíquico. Discutindo o modelo político e econômico imperialista e liberal em suas incidências sobre a estrutura de violência a eles correlata, alocou o saber universal suposto ao império como mais um particular. Dado que a colonização é um deslocamento da própria condição humana, para haver desalienação, ele diz, é preciso que as coisas voltem a seu lugar.
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