Economia libidinal e a recusa ao antropocentrismo
Lyotard em cena de documentário de 1985 (Gérard courant/ Service de la documentation photographique du MNAM - Centre Pompidou)
Em uma longa e densa entrevista a Willen van Reijen e Dick Veerman, transcrita para a revista francesa Cahiers Philosophiques 5 (1988), Lyotard disse que Économie libidinale, de 1974, é um livro “desesperado” e que foi, pelos seus poucos leitores, acusado “do pior”. Ele certamente se refere ao relativismo e ao “permissivismo” que a obra encoraja: assume, na mesma entrevista, que a questão da justiça e a questão do bem e do mal foram solapadas em nome do critério único das intensidades libidinais. Inspirado em Nietzsche e em “um certo Freud”, Lyotard buscava uma resposta à crise condicionada pela tentativa de moralização política que cria encarnada no marxismo. O intelectual contemporâneo não estaria mais na posição salvacionista de apontar o caminho para o fim comum da humanidade, uma vez que as grandes narrativas, que durante a modernidade iluminista apostavam que o conhecimento, a razão e a emancipação nos livrariam de todos os terrores do obscurantismo e da dominação, escancaram sua crise.
À época da entrevista, Lyotard publicara havia dois anos aquele que chamou de seu “livro de filosofia”, Le Differend, e analisava com um pouco mais de distanciamento aquele ambiente “pagão”, libidinal, de seus textos da década anterior; tentou remediar, assim, com o livro de 1983, a falta cometida pelo anterior – em relação ao problema da justiça, sem sacrificar a delicadeza e a fragilidade do acontecimento ontológico. Para isso, mudou de referencial teórico – trocou Freud e Nietzsche por Kant. É interessante pensar
Assine a Revista Cult e
tenha acesso a conteúdos exclusivos
Assinar »