Dossiê | Encontros à beira do abismo: psicanálise, gênero e estudos queer
Fefa Lins, Broderagem, 2021. Óleo FOTO DE SOFIA LUCCHESI/CEDIDA PELA GALERIA AMPARO 60 sobre tela,
“Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.”
(Friedrich Nietzsche, Além do bem e do mal)
O motorista para o carro em frente à praça e pergunta ao flanelinha: “Tudo bem, irmão? Tem como dar uma informação aqui? Tô perdidinho, cara... Tava lendo Heidegger e fiquei na dúvida, quando ele fala o conceito de Dasein Fiquei na dúvida, que porra é essa?”. Diante do espanto do flanelinha, que simplesmente exclama “Oi?”, ele contextualiza melhor: “O Lacan critica Heidegger exatamente neste lugar”. Devidamente situado, o flanelinha responde: “Ih, rapaz, tu me complica; é que não sou lacaniano!” e convoca Jaime, seu colega de profissão. Jaime entra em cena e informa o caminho correto: primeiro Husserl, depois Heidegger, pra só então cair em Lacan. E detalha: primeiro você pega Husserl, “aí tu vai desembocar direto no Ser e tempo, aí tem Freud, tu vai vê, tu pega. Freud não tem erro! Tu vai vê, tu vai sabê! Pegô Freud, vai pra Lacan”. Aliviado, o motorista responde: “Então é isso, acho que peguei Lacan no sentido errado”, ao que Jaime conclui: “Ah, isso acontece muito”. Essa cena faz parte de um esquete do humorístico Porta dos fundos. Gregório Duvivier assina o roteiro.
Muitas vezes o debate entre psicanálise, teorias de gênero e estudos queer lembra uma cena mais ou menos desse tipo. Uns perdidos, outros desinformados, e segue-se a comédia de erros. Não é incomum que estudioso
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