dossiê | Elena Ferrante: autora ou personagem?

dossiê | Elena Ferrante: autora ou personagem?
(Ilustração: Fernando Saraiva)
  Há em italiano uma expressão intraduzível em seu duplo significado: io non ci sto. Literalmente, significa: não estou aqui, neste lugar, diante daquilo que vocês estão propondo que eu aceite. No uso comum, porém, significa: não estou de acordo, não quero. A recusa é ausentar-se dos jogos de quem esmaga todos os fracos. Elena Ferrante, Frantumaglia: os caminhos de uma escritora (2013) O poeta italiano Attilio Bertolucci tem um verso que diz: “Ausência, a mais aguda presença”. Como no paradoxo do verso, a ausência de uma imagem que acompanhe o nome Elena Ferrante tem sido percebida como uma das presenças mais afirmativas do cenário literário contemporâneo. Há cerca de três décadas, Ferrante tem assinado algumas das obras mais lidas e comentadas do nosso tempo. A mais célebre é o romance A amiga genial (Biblioteca Azul, 2015), originalmente publicado em quatro volumes separados, que foram lançados na Itália entre 2011 e 2014. A obra, que ficou conhecida como tetralogia napolitana, acabou se tornando um fenômeno de recepção, que deu origem a um movimento cultural apelidado de “Febre Ferrante”. Essa comoção, que ultrapassa os marcadores habituais do mercado editorial e não se limita ao número de exemplares vendidos, também tomou parte importante da crítica. Em 2013, James Wood, um dos críticos literários mais prestigiados da atualidade, professor da Universidade Harvard, publicou um artigo elogioso na revista The New Yorker mencionando também os romances anteriores de Ferrante e acabou selando o destino bem-sucedido da au

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