dossiê | Ceticismo

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“A incredulidade de São Tomé” (1601-1602), pintura de Caravaggio (Imagem: Reprodução)
  Em nosso dia a dia, as pessoas usam com muita frequência as palavras “ceticismo” e “cético” para se referir a um estado de dúvida ou certo pessimismo. Diz-se, por exemplo, que uma pessoa é “cética em relação ao futuro da democracia” ou que “é cética sobre a eficácia das vacinas contra a Covid-19”. Parece que estão em um estado mental que as impede de acreditar em algo. Porém, não acreditar é também uma maneira de acreditar, de formar uma opinião, de ter uma convicção. Uma pessoa pode ser “cética” em relação à democracia por ter uma forte convicção de que os eventos recentes com a ascensão de políticos de extrema direita é uma ameaça real às instituições das democracias liberais. Ou o ceticismo em relação às vacinas pode resultar de uma crença cega em um líder lunático. Em filosofia, o ceticismo tem um sentido ligeira e crucialmente diferente – que este dossiê tentará apresentar e que pode contribuir de modo relevante para a compreensão do estado de coisas que nos acossam hoje. Em primeiro lugar, vamos contextualizar: o ceticismo como expressão filosófica surgiu na Antiguidade Clássica europeia, e naquela época a filosofia não era apenas um artefato teórico para deleite do intelecto. No breve e indispensável As origens do pensamento grego, Jean-Pierre Vernant apresenta uma conclusão de simplicidade e força retórica impactantes: no arco da história, o nascimento da filosofia europeia coincide com o advento de uma forma de vida inédita, a pólis – uma forma de vida baseada na palavra e

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