Ceticismo e Novo Mundo

Ceticismo e Novo Mundo
O papa Paulo III decretou, em 1537, que os indígenas “eram seres humanos”. Pintura de José Garnelo y Alda (1892) retrata a visão colonial de Colombo na América (Imagem: Reprodução)
  No já clássico A conquista da América, Tzvetan Todorov (1939-2017) interpreta a descoberta do Novo Mundo como “a descoberta do outro”, devido a seu impacto sobre o pensamento europeu da época e ao abalo que causou na imagem tradicional da unidade da natureza humana no pensamento político, filosófico e teológico da tradição. São raros os momentos de ruptura profunda no pensamento, como o ocorrido no período histórico que conhecemos como início da Modernidade, que levou à necessidade de reorganização do campo do pensamento e do discurso legitimador. As categorias tradicionais não mais funcionavam, e novas categorias não tinham ainda sido formuladas. É esse intervalo entre o final do século 15 e o final do 16 que nos interessa em particular e sobre o qual vamos levantar algumas questões e discutir possibilidades de interpretação. Esse será o pano de fundo em que ocorrerá a retomada do ceticismo antigo e a formulação de novas questões céticas características da Modernidade. A leitura de textos céticos antigos, tornados acessíveis desde o Renascimento, abre caminho para essa discussão e até mesmo a radicaliza. No pensamento antigo, o ceticismo foi a corrente filosófica por excelência a colocar a própria filosofia em questão. Herdeiro inicialmente do pensamento da Academia de Platão (século 4 a.C.) e fortemente influenciado pela filosofia socrática, o ceticismo – em suas várias formulações – põe em questão as pretensões filosóficas e científicas à certeza e tematiza o conflito entre as doutrinas da época q

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