Tocqueville: a dimensão política da inveja

Tocqueville: a dimensão política da inveja
Retrato do sultão Mahmud II (1839), de Henry Guillaume Schlesinger
No Império Otomano, em 1829, o sultão Mahmud II aboliu antigas distinções sociais baseadas na vestimenta e determinou que todos os servidores usassem o mesmo tipo de barrete mourisco. Desapareciam as túnicas de honra e os turbantes distintos. Dez anos depois, os decretos de Tanzimat estabeleciam a igualdade jurídica entre os súditos otomanos. As transformações no vasto e antiquíssimo Império Otomano eram parte de um movimento aparentemente irresistível: as Revoluções Atlânticas em fins do século 18 e início do 19 contestaram distinções ancoradas nos costumes e nas tradições. Contra o pluralismo do Antigo Regime, os revolucionários recorriam a abstrações, como a igualdade jurídica, que passaria a figurar como direito constitucional. Mesmo regiões que não sofreram diretamente os efeitos das revoluções, como o Império Otomano, se viram obrigadas a levar a cabo reformas que dialogassem com os projetos revolucionários. Poucos interpretaram melhor esse período do que o pensador e político francês Alexis de Tocqueville, autor de dois clássicos da história do pensamento político: A democracia na América (1835) e O Antigo Regime e a revolução (1856). Para Tocqueville, o elemento primordial que separa os mundos pré e pós-revolucionário é o fato democrático. No entanto, para ele, a democracia não é, efetivamente, um tipo de governo, nem pode ser reduzida à votação. Trata-se de um tipo de sociedade em que os seres humanos acreditam cada vez menos nas diferenças sociais “naturais”, inerentes, sagradas e imutáveis.

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