A geometria da inveja segundo os cinco sentidos
“Invidia” (1304), de Giotto di Bondone, que integra o afresco “As virtudes e os vícios”, Cappella degli Scrovegni, Pádua, Itália
A inveja é uma forma de contemplação ressentida pelo sucesso dos outros, imbuída do desejo último de possuí-lo. Sabe-se que ela nunca é geral, mas particular, direcionada a atributos específicos do próximo. O objeto da inveja é inatingível, mas, muitas vezes, causa no invejoso a ilusão do contrário, envolvendo-o em um eterno ciclo de busca. De maneira paradoxal, ela toma conta de todo o seu corpo, física e psiquicamente.
Sabe-se que a inveja é tão perniciosa que os invejosos estão dispostos a destituir os outros de seus benefícios, ainda que, para tanto, seja necessário que eles mesmos sofram uma perda, podendo, inclusive, pôr fim à existência daquilo que beneficia sua própria vida. Ela não segue a lógica da coerência ou do sentido. A inveja é irracional, incontrolável e autodestrutiva. Muitos de nós devem ter visto com os próprios olhos.
Não se sabe ao certo a origem histórica da inveja, já que ela é uma emoção escondida na clandestinidade e se manifesta, vez ou outra, até alcançar uma forma visível. Episódios de inveja que conduziram a tragédias são conhecidos desde o início dos tempos. Um dos mais antigos é o mito de rivalidade entre irmãos narrado na conhecida história bíblica de Caim e Abel (Gênesis, 4:1-16). Caim foi consumido pela inveja, o que o levou a matar seu irmão como uma forma de possuir aquilo que lhe pertencia.
Uma das mais reveladoras representações da inveja é a alegoria pintada pelo artista renascentista italiano Giotto di Bondone (c. 1267-1337), como parte de seus afrescos na capela
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