Destroços da modernidade em Graciliano Ramos

Destroços da modernidade em Graciliano Ramos
O escritor alagoano Graciliano Ramos (Acervo Família Graciliano Ramos)
  A busca da essência ou substrato nacional, que foi dominante no primeiro modernismo e continuou marcando presença em romancistas como José Lins do Rego e Jorge Amado, não tem lugar na escrita de Graciliano Ramos. Caetés, para começar, narra a impossibilidade de narrar o Brasil. O passado é irrecuperável. João Valério é mais do que um homem sem identidade, é um homem que não tem aonde ir buscar identidade. Ele se defronta com o vazio ou o nilismo. Aí está em causa a tradição literária brasileira, na qual o narrador-protagonista procura se inserir, mas sem sucesso. Em estudo recente sobre Caetés, Célia Pedrosa afirma que “é justamente contra essas armadilhas sentimentais, ideológicas e discursivas que Graciliano Ramos se insurge, primeiramente através de seu personagem-escritor João Valério, que condena ao fracasso para representar a condição também fracassada dessa tradição literária em que narrar significa escrever sobre um Outro distanciado histórica, cultural ou psicologicamente da realidade do escritor” (“Ser e não ser caeté: questões de raça e classe em Graciliano Ramos”, em Margem, n. 10, dezembro/99). José Paulo Paes, comparando Caetés com A ilustre casa de Ramires de Eça de Queiroz, observa que, a despeito das grandes semelhanças, uma diferença é fundamental entre os dois livros: enquanto no livro de Eça o protagonista está empenhado em recuperar a grandeza da história nacional, em Caetés o narrador-protagonista apenas dá notícia da ausência de qualquer passado a ser recuperado. Ele se pergunta

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