"A leitura pode salvar individualmente"

"A leitura pode salvar individualmente"

Jaqueline Gutierres

O impacto dos livros na sociedade foi o tema que permeou todo o painel “Como e porque sou escritor”, com a presença do português Gonçalo Tavares e do venezuelano Fernando Báez, na manhã de domingo, na Fliporto. “O livro pode ser sagrado, é um objeto transcendental. Há homens que dão suas vidas por eles”, comentou Baéz, autor da obra História universal da destruição dos livros (Nova Fronteira). O venezuelano ainda apontou como ilusória a ameaça das novas tecnologias aos impressos, “os livros digitais não são uma substituição, são apenas milhares de novos caracteres que estão chegando ao mundo de outro modo”.

Gonçalo Tavares ponderou sobre as consequências, nem sempre positivas, da credibilidade que se dá aos livros. “Assim como nenhum objeto é de pura maldade ou bondade, o que varia de acordo com o uso que se faz dele, a ingenuidade de acreditar em tudo o que está escrito em um livro pode ser bem perigoso.” O português citou como exemplo, Minha luta, escrito por Adolf Hitler.

Para Tavares, porém, um livro sozinho não pode causar uma revolta, muitos deles sim. “Ler livros pode mudar cabeças, são como máquinas de fazer pensar. A leitura pode salvar individualmente”, defendeu. Báez complementou dizendo que, justamente, este poder levou à destruição de muitos livros ao longo da história. “Há o que chamamos de biblioclatas, pessoas que se dedicam a destruir a memória do inimigo para impor as suas. Fazem isso porque quem apaga a memória, apaga a identidade.”

Destacando a origem de todo o debate proposto, Tavares mencionou a relação do homem com as letras. “Elas são, no fundo, apenas desenhos. Nós, que não entendemos a língua árabe, quando olhamos aquela escrita, vemos apenas traços, se não dominássemos nosso alfabeto, veríamos o mesmo.” O português ainda expandiu a reflexão, falando que o ser humano cria algo real quando escreve, assim como os identifica quando lê. “Vemos imagens e não letras. Assim, quando acreditamos em uma história escrita, estamos acreditando em traços. Acho isso uma perturbação mental bem simpática.”

(1) Comentário

  1. coisa curiosa é q Tavares fez anotações num bloco quase o tempo todo. parecia estar assistindo ao próprio evento em que era o centro das atenções, e chegava a transparecer um certo susto, ou um certo estremunhamento, quando era chamado a falar pelo mediador.

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