Entre ensaios e ficções

Entre ensaios e ficções

Jaqueline Gutierres

 

Risos e aplausos foram frequentes na plateia, em resposta às muitas brincadeiras e fortes afirmações de Frei Betto, durante o painel “O processo da criação literária”,  que abriu os eventos de sábado no congresso literário da VII Fliporto. “Hoje eu vivo no convento, por um tempo, estive na prisão. A diferença entre esses lugares é que do convento eu tenho a chave da porta”, satirizou, ao começar sua fala sobre os tempos de ditadura militar.

“Nasci escritor, como muitos nascem. A dificuldade está em se tornar autor, publicar o que se escreve. No meu caso, devo aos militares”, afirmou, mais uma vez em tom descontraído. Frei Betto comentou que, nos quatro anos em que esteve preso, sua terapia era a escrita. “Escrevia cartas para amigos, cartas de denúncia. O bom de estar na cadeia era que eu podia falar mal do governo sem medo de ser preso.”

Frade e escritor, vencedor do Prêmio Jabuti em 1982, por Batismo de sangue (Rocco), e em 2005, por Típicos tipos – perfis literários (A girafa), Betto falou sobre o projeto de se dedicar a textos ficcionais. “Não importa a que público se destine, adultos ou crianças, quero escrever ficções. Acho que já esgotei minha capacidade de produzir ensaios”, concluiu.

O escritor relembrou ainda sua relação com Fidel Castro, a quem foi apresentado por Lula, que resultou na obra Fidel e a religião. “Um Estado tem que ser laico, como quer a modernidade. Ser a favor ou contra Deus não é papel do governo, que deve cuidar do bem-estar do povo. Foi isso o que disse a Fidel no dia em que o conheci.”

Depois do painel, Frei Betto se dirigiu à feira do livro para uma sessão de autógrafos. A feira integra o evento e coloca a venda títulos dos autores convidados, entre as obras de Frei Betto, destaque para o lançamento Minas de ouro (Rocco).

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