Contra os dogmatismos
Edição do mêsKant tentou criar uma terceira via filosófica: nem dogmática, nem cética (Imagem: Reprodução)
Nós, céticos, costumamos distinguir dois tipos mais importantes de filosofia: o ceticismo e o dogmatismo. Esse é o conflito básico da filosofia, porque é o mais geral. O que os distingue? O dogmático é aquele filósofo que aceita um conjunto de dogmas, isto é, tem uma doutrina sobre um assunto de investigação filosófica, qualquer seja esse assunto, ao passo que o cético não tem nenhuma. Não há uma terceira possibilidade – ou se aceita ou não se aceita uma doutrina filosófica. A grande questão filosófica é ter ou não ter uma doutrina.
O que define uma filosofia dogmática é sua doutrina particular, isto é, um conjunto de afirmações sobre os assuntos de investigação filosófica, apoiadas em argumentos de tipo específico. Por exemplo: existem deuses? Qual o critério para distinguir realidade e ilusão? O que é o tempo? O que é justiça? Quais ações são boas? Sobre esses e outros assuntos, um filósofo pode fazer determinadas afirmações e, como outros filósofos fazem afirmações contrárias às suas, ele deve argumentar a favor de suas próprias afirmações e contra aquelas dos outros filósofos. Esse discurso articulado e coerente de afirmações e argumentos sobre os assuntos investigados pela filosofia é sua doutrina. O conflito entre as afirmações dos filósofos é o que chamamos de desacordo dogmático.
Nós, céticos, não fazemos parte desse conflito, porque não temos doutrinas a defender. De fato, usamos a nosso favor esse desacordo insolúvel entre eles. Primeiro, não há critério para decidir quem tem raz
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